Nos dias frios de Inverno em que pouco se podia fazer nos campos, aproveitava-se para fazer a matança.
Depois do mata-bicho composto por umas passas de figo e um copito de aguardente, os homens iam para o pátio coberto de mato, e matavam o porco, enquanto no borralho as mulheres sem entendiam entre tachos e panelas.
Depois de morto, era chamuscado com caruma ou carqueja e esfregado com uma telha de canudo até ficar bem aloirado. Depois de lavado com água quente e coberto com velhas mantas grosseiras molhadas com água fria para o arrefecer, todos íamos ao almoço, que segundo a tradição era composto por batatas e bacalhau, alho e azeite novo.
Tinham ainda tempo para jogar uma cartada e depois disso dependuravam o porco na adega com um chambaril preso às pernas até a cabeça ficar a meio metro do chão.
É amanhado aproveitando-se o sangue para fazer o moado (morcelas e bolos), e as tripas eram lavadas num ribeiro de água limpa com bastantes laranjas e sal para lhes tirar o cheiro.
Faziam a cachola para ser comida ao meio da tarde. Para a ceia era o habitual cozido da matança e o arroz com galinha, regado com o melhor vinho.
No dia seguinte esbandalhava-se o porco, fazia-se a manteiga e o sal da manteiga, os torresmos, que comidos quentinhos com a broa mole eram uma delícia. Os presuntos eram postos no fumeiro, os lombinhos dento da bexiga, os lombos dentro da panela da manteiga, e a carne branca era posta em sal novo na salgadeira.
À noite ceava-se um bom cozido já com os bolos de sangue, umas morcelas e a cabeça do porco descarnada.
Eram sempre dois dias inesquecíveis que passava com todos os meus primos e os mais crescidos.
Que saudades da matança à moda antiga!
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
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9 comentários:
Ó caro amigo, onde me apresento? levo faca e garfo, apetite quanto baste ...
Lombinhos na bexiga?!!! ahahahah
E eu sei quem deixou a bexiga oca e pôs os lombinhos no buxo... ahahahah
Cá por casa, quer dizer na casa dos meus país, fazia-se essa matança á moda antiga, a única parte que eu não participava era na própria morte do animal, tirando isso estava presente nas outra etapas.
principalmente no final, depois de tudo arrumado e se fazer umas belas de umas fevras na brasa...
Caro amigo quintarantino, pena é que não se possa fazer a matança hoje!
Já não nos deixam criar o nosso porquito.
Somos levados a comer aquilo que os talhos vendem...
Caso contráro,bastava o apetite!
Quanto ás ahahahahassss da fa menor,fica sabendo que, enquanto se lavava a tripa, era eu que tratava da bexiga.Enchia-a de ar com um canudo de cana,e esfregada no sal e laranjas, aumentava de volume ...o que eu quisesse.
Daí quanto maior...mais lombinhos para o meu bucho..claro.
Tiago, eu também, não assistia,até tapava os ouvidos! mas ajudava em tudo o resto.
Cheguei a fazer uma à moda antiga, mas custou-me bastante comer os presuntos (pelo menos).
Foi um animal criado por mim...
...E o resto fica por dizer.
Bom fim de semana para todos
Sei que a carne criada em casa
É bem diferente
Mas é tão estranho vermos os bichinhos
Crescerem e sermos nós a acabar com a sua vida
Beijinhos
luna
O bicho até nem era porco!
Dava-lhe banho quase todos os dias
Por isso é que nunca mais.
A partir daí , passei aconsumir mais peixe.
Bom fim de semana luna
Beijinho
A matança no Algarve era ligeiramente diferente. A meio da manhã, comia-se o sangue, cozido, temperado com cebola e salsa. Nunca gostei muito deste " pitéu". Ao almoço, comia-se o bacalhau com batatas, temperado com azeite novo mas também se podia comer um bom ensopado de galinha. À tarde, à ceia, comia-se a cachola estufada com batatinhas que cresciam sem qualquer produto químico. Havia quem comesse lombinhos fritos por não gostar da cachola nem do bofe. A bexiga, depois de cheia de ar através de uma cana, acabava numa jogatana entre os primos.Tenho saudades da brincadeira desses dias passados a correr nos cerros e nos vales. Íamos todos às matanças dos vizinhos.
Beijinhosasss
Gostei muito deste post porque avivou as minhas longinquas recordacoes de crianca na Beira Alta. Lembro-me muito bem de ver as mulheres a lavar as tripas na ribeira e salpica-las de rodelas de laranja. Obrigado. Eu voltarei aqui regularmente.
Na minha terra ainda se cria o porquinho e depois se procede mais ou menos a este ritual no dia da matança.
Da última vez que assisti (menos à própria da morte) dei conta que já não se chamusca com caruma, já é com um maçarico. Modernices!
O progresso tirou-nos estes costumes de que tantas saudades temos.
Um abraço
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