Quando a minha mãe ia à vila comprar alguma coisa para vender na loja, pedia-lhe que me levasse com ela porque eu não era tão guloso como a mana. Não era preciso pedir, a minha mãe bem sabia o que eu queria (um pão de deus ou uma boneca para comer).
E a alegria com que eu ficava quando o meu pai chegava do “longo curso”! Trazia sempre alguma coisa para oferecer aos dois filhos. Um dia fez-nos uma surpresa. Trouxe um bicho muito estranho que era mais ou menos da minha altura. Tinha uma cabeça, dois olhos, uma boca, uma data de pernas com buracos. Perguntei-lhe, disse-nos que era um polvo.
Prestei toda a atenção ao que o meu pai fazia. Amanhou-o e, depois de limpo, dependurou-o ao sol longe do alcance dos gatos ou dos cães, dizendo que depois de seco era muito bom para comer. À noite retirava-o, e de dia voltava a pô-lo no mesmo sítio.
O tempo passava e eu com o desejo de provar aquele petisco, que imaginava ser tão bom como a bexiga do porco no fumeiro. Estava sempre à espera que o meu pai desse o primeiro corte com a faca no polvo, para assim eu poder comê-lo.
Estava quase seco quando um cão vadio, passando por ali captou o cheiro do polvo e sem que ninguém desse conta, conseguiu roubá-lo e arrastando-o pela rua deserta, à vista dos transeuntes, que também acharam estranho tal coisa, levando-o para o seu esconderijo para depois o comer.
Grande refeição teve aquele cão vadio!
Ainda hoje estou para conhecer o sabor do polvo seco ao sol. Nunca vi tal coisa à venda no mercado que pudesse comprar.
Alguém tem um bocadinho que me mande por correio? Eu gostava de lhe dar umas dentadas!
Mas hoje o polvo é de outra qualidade…
sábado, 10 de maio de 2008
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11 comentários:
o que tenho aqui mais perto é a Fogaça da feira, não tem nada a ver mas aprecio, se quiseres mando-te uma.
Puxa, também gostaria de provar tal receita.
Aqui há polvos, mas creio que não sejam tão frescos quanto o de seu pai.
Huuummm... Fiquei com água na boca...
Olha, deixei um presentinho pra ti no meu blog. Quero que receba-o sabendo que admiro-te muito.
Abraços.
E guardado estava o bocado para quem o havia de comer. A secagem do polvo ao sol era feita, como sabes, quando não havia outro processo de conservação mas ainda há quem a faça. Era e é muito usada em comunidades piscatórias mais pobres ou onde a luz eléctrica ainda não chegou.Este processo de secagem ainda se faz com a moreia que, depois de arranjada e limpa, é esticada através da colocação de canas e exposta ao sol.
Mais um post divinal onde não sei se narrador e autor coincidem mas parece-me que sim.
Muito interessante, amigo.
Bjinhossssss
Jo, eu vi uma vez em Monte Gordo uma secagem de polvo para depois ser comido; eh pá, juro-te que depois do que vi seria incapaz de comer aquela coisa, enquanto secava e não secava a quantidade de moscas e mosquitos à volta daquilo fazia impressão. Na Nazaré também costumam secar peixe mas não é polvo. Sugeria que comprasses um polvo e fosses tu próprio a secar o bicho, assim já sabias o que comias. Dizem que é bom, não sei.
Um Abraço:))
:))
Talvez nalguma terra de pescadores! Ou perto do mar!
Quem sabe!!!
Jinhos
PS: Ainda existem quem os apanhe, vá à pesca do polvo! Não me refiro, às grandes pescarias, mas por quem o faça por gosto!
Jo
Quando eu era criança nalgumas feiras de aldeia vendiam polvo seco, grelhado, uma vez provei e não gostei (e eu até gosto de polvo), e o cheiro que o dito grelhado deitava era de fugir.
Penso não ter voltado a comer tal petisco.
Bjs
pois por aqui só umas francesinhas ou umas tripas à moda do Porto, servem?
beijos
Aqui na Nazaré no areal ainda se faz a secagem do carapau, sarda , polvo peixe agulha e batuques, por isso se a vontade for grande sabes onde ir procurar
Bj
Que saudades do arroz de Polvo...onde eu vivo apenas se encontra peixe-gato...
Pois...Lá o dito polvo seco não tenho para te enviar, e também nunca provei. Polvo de várias maneiras cozinhado, isso sim e gosto. De petiscos aqui...Se és guloso ainda te posso "safar", se não, há sempre os peixes aqui das "praias", serve?
Beijinho grande, está um espanto como de costume
Tiago,
Se a Fogaça é daquelas que levam açúcar, podes enviar.
Porque diz o ditado "conduto sem fogaça, é mau governo!"
Auréola Branca,
Era fresco, era,
e o meu pai podia tê-lo feito de ensalsado.
É cá um petisco!
Sophiamar,
Coincidência total
hehe "guardado estava o bocado..."
Mas digo que que o polvo seco ao sol, deve ficar mais duro , do que cozinhado!
E o canídeo tem melhor dente que nós.
Lynce,
Se o polvo leva tempo a cozer, não sei como o sol lhe consegue tirar a rigidez
Aran,
Se eu vivesse junto ao mar, digo-te que um dos meus passatempos, seria a pesca.
Fui "pescador" quando o achigâ invadiu por aqui os campos do arroz, há década + ou -
Depois desapareceu.
Mara,
Obrigado por me alertares.
Prefiro então continuar a comê-lo como sempre; cozido ou estufado.
Carla,
Claro que serviam!
Por acaso francezinhas ainda não provei.Agora tripas à moda do Porto, penso que será "dobrada com feijão branco" Uma delícia.
Mas já não se vê muito este prato nos restaurantes.
Multiolhares
Fico a saber onde procurar.
Quando passar pela Nazaré, vou experimentar
Villager,
Polvo é bom
Então por aí só enlatado de caldeirada.
O peixe-gato tb existe por aqui
Penso que é uma miniatura de tubarão?!
Luar Perdido,
Gosto mais de peixe do que carne.
"A gulosa é a minha mana"eheh.
Na época de praia consegue-se comprar peixe com preço mais baixo.
Olha quando em pequeno me disseram que os polvos eram apanhados nas rochas ... e pensei que eram nas serras. Devem ser bons esses pescados daí!
Obrigado a todos
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