quarta-feira, 11 de junho de 2008

Aldeia (des)encantada


(Miniatura do ti Joaquim)

Na aldeia, que mais parecia estar assombrada, algo de anormal acontecia.
Depois do casamento, as noivas adoeciam gravemente com doença desconhecida.
O médico era chamado, sempre à última da hora, quando já não havia nada a fazer.

Aconteceu que um dia um jovem recém-casado teve que o chamar porque a sua noiva fora acometida da misteriosa doença. O médico depois de a examinar disse ao marido que não havia nada a fazer, que se preparasse para passar a viúvo e que não duraria mais que quarenta e oito horas. Disse-lhe ainda que passado esse tempo fosse ao seu consultório para que lhe passasse a certidão. O jovem não se conformou, e pensou para consigo “ora eu há pouco tempo casado com uma bela mulher, é um desperdício ela partir sem que eu… nah, tem que haver uma solução!”
Deitou-se junto dela, imóvel, preocupado com os seus gemidos e lamentos.

Toda aquela santa noite, apesar da noiva doente, e porque eles se gostavam muito, foi de grande ternura, muito amor, muita paixão… Ela espreguiçando-se a meio da madrugada mandou o marido ir buscar um chá (chá de marcela, muito amargo, que mais parecia veneno) e bebeu-o em poucos goles, com muito gosto, e cheia de vontade de viver……

O médico estranhou a demora do jovem a chamá-lo e deixou que passasse mais algum tempo. Como não aparecia pôs-se ele a caminho da casa do casalinho. Pelo caminho ia perguntando se tinha morrido alguém por ali na aldeia. Respondiam-lhe que não. Bateu à porta e apareceu-lhe o rapaz todo risonho e diz-lhe, sem que o médico lhe perguntasse, que a sua noiva estava muito melhor.
- Chamaram outro médico? - Perguntou.

- Não! - Muito envergonhado o rapaz confessou-lhe o que tinha feito naquela noite.
Por fim o médico exclamou:
- Sim senhor! Quantas eu tenho deixado morrer! Se antes soubesse, teria receitado essa medicina.

Depois de ouvida esta história do ti Joaquim, pode-se chegar à seguinte conclusão, entre outras:
Naqueles tempos segundo as narrativas deste mestre, os noivos nem sequer dormiam um com o outro na noite de núpcias (as mães não deixavam), ou se o faziam, não pensavam em mais nada do que fazer projectos para o dia seguinte, e para o futuro. Da lua-de-mel não sabiam o que era ou simplesmente não existia nas aldeias. Passavam toda a noite a falar como iriam arranjar dinheiro para comprar uma junta de vacas, como conseguir uma grande adega de vinho, marcar os dias para cultivarem as terras, enfim a festa no lugar de continuar, terminava ali naquela noite.

Portanto é de salientar que, as noivas sendo mais sensíveis e mais vulneráveis que os noivos, adoeciam. Faltava-lhes, logo no início, o amor, elemento principal para a vida a dois.
Mas o ti Joaquim não foi nas couves! Deixou o trabalho para segundo plano!

19 comentários:

Isamar disse...

Jo Ra Tone

Participo, a partir de ontem, num blog colectivo.Passa por lá. Deixo-te o link mas encontras o selo no template do meu blog.
http://adlibitum2008.blogspot.com/

Voltarei para te comentar. Desculpa.

Beijinhos

Carla disse...

pois amigo bem fez o Ti Joaquim, como tempo lhe veio a dar razão...agora isso das noivas serem mais sensíveis já outra verdade se sobrepõe
beijos

Isamar disse...

Jo ra Tone

Ah, grande tio Joaquim! Não se vive sem amor esse condimento especial que une dois seres. Há lá coisa melhor na vida! Amar e ser amado, eis a chave da saúde.
Bela história, migo!

Bjinhossss

joaquim disse...

Ora aí está: a causa de muitas doenças é a falta de amor!

Gostei de aqui vir, embora não seja a primeira vez.

Gosto particularmente da pintura das Termas da Amieira.

Abraço

Mara disse...

Jo
Linda história e talvez verdadeira. O Ti Jaquim era um grande ratão.
Bjs

Auréola Branca disse...

Puxa, que lindo!
Estou aqui a pensar... Não nos dois primeiros dias, mas na vida de um casal, quanto falta o amor?

Incrivelmente noto a diferença de namorados apaixonados para casados. Eles parecem mais distantes. Quando era menor, acreditava que amor era isso: distância.

Não quero isso pra mim. E nem pra quem esteja ao meu lado.

Gostei de ler-te hoje.

LuzdeLua disse...

Falta de amor...
Isso é mesmo grande causa de diversas doenças. As pessoas parecem que se petrificaram com o tempo, já quase nada os tocam.
Mas, é bom estar por aqui de volta amigo. Embora nao tão bem como sentistes,aqui ao menos meus amigos estão por perto.
Um abraço com carinho e o desejo de um otimo findi semana com muito amor.
Bjs

Daniel disse...

Jo Ra Tone

De facto, sem amor, a vida não passa de uma quimera. A consumação do amor é a própria vida.

Daniel

claudia disse...

O trabalho dignifica o Homem, mas o verdadeiro amor fâ-lo viver intensamente!!!

Luna disse...

Assim é cada vez mais as pessoas se esquecem que o amor é o elo principal entre dois seres
beijos

São disse...

O Tio Joaquim era homem inteligente...e habilidoso, como se vê pela foto.
Tudo de bom.

Rosa Maria disse...

Abençoado Tio Joaquim...

Afinal o remédio era tão barato e tão bom!

Era o AMOR!!!

Beijos

Tiago R Cardoso disse...

Excelnete, muito bem...

de férias,
Tiago.

Manuela Viola disse...

O Ti Jaquim é que sabe!!

Um Certo Olhar disse...

Deixei-te um poema dedicado ao Tio Joaquim e a ti que me trouxeste esta história.
Bjo

Anónimo disse...

Bela narrativa Jo. Por vezes temos a solução para um problema tão próxima, que não nos apercebemos disso, preferimos trilhar caminhos mais sinuosos em busca não se sabe bem de quê, ou então ficar parados à espera que o "milagre" aconteça.

LuzdeLua disse...

Passando para deixar um abraço e bons desejos para esta semana.A cada vez que leio levo lago de novo.
Um abraço

Filoxera disse...

Só coisas admiráveis: o texto e o trabalho manual do "ti" Joaquim. Parabéns!

vieira calado disse...

Adoro essas miniaturas!
Bom dia.