terça-feira, 17 de novembro de 2009

O sapateiro pobre



Havia um sapateiro que trabalhava á porta de casa todo o santíssimo dia cantava tinha muitos filhos que andavam rotinhos pela rua pela muita pobreza e à noite enquanto a mulher fazia a ceia o homem puxava da viola e tocava os seu batuques muito contente ora defronte do sapateiro morava um ricaço que reparou naquele viver e teve pelo sapateiro tal compaixão que lhe mandou dar um saco de dinheiro porque o queria fazer feliz o sapateiro lá ficou admirado pegou no dinheiro e à noite fechou-se com a mulher para o contarem naquela noite o pobre já não tocou viola as crianças como andavam a brincar pela casa faziam barulho e levaram-no a errar na conta e ele teve de lhes bater ouviu-se uma choradeira como nunca tinham feito quando estavam com mais fome dizia a mulher e agora que havemos nós de fazer a tanto dinheiro enterrar-se perdemos-lhe o tino é melhor metê-lo na arca mas podem roubá-lo o melhor é pô-lo a render ora isso é ser onzeneiro então levantam-se as casas e fazem-se de sobrado e depois arranjo a oficina toda pintadinha isso não tem nada com a obra o melhor era comprarmos uns campinhos eu sou filha de lavrador e puxa-me o copo para o campo nessa não caio eu pois o que me faz conta é ter terra tudo o mais é vento as coisas foram-se azedando palavra puxa palavra o homem zanga-se atiça duas solhas na mulher berreiro de uma banda berreiro da outra naquela noite não pregaram olho o vizinho ricaço reparava em tudo não sabia explicar aquela mudança por fim o sapateiro disse à mulher sabes que mais o dinheiro tirou-nos a nossa antiga alegria o melhor era levá-lo outra vez ao vizinho dali defronte e que nos deixe cá com aquela pobreza que nos fazia amigos um do outro a mulher abraçou aquilo com ambas as mãos e o sapateiro com vontade de recobrar a sua alegria e a da mulher e dos filhos foi entregar o dinheiro e voltou a sua tripeça a cantar e trabalhar como de costume

VIALE MOUTINHO

5 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Não sei se o dinheiro nos torna infelizes.
Mas felizes, torna-nos de certeza.
Só há um pormenor.
É que se deve contá-lo com os pés no chão e não com a cabeça no ar ...
Cumprimentos

Daniel Costa disse...

Jo ra Tone

O conto sendo interessante, diz-nos que o dinheiro não dá felicidade. Fez-me recordar os ganharam riqueza no totobola. Como não tinham preparação para a gerir depressa voltaram ao antigo estado de pobreza.
Camilo Castelo Branco escreveu um livro designado "As Pobrezas do Rico e as Riquezas do Pobre". O conteúdo adequa-se. Um pobre sorve um jantar de festa, chama-lhe manjar, para o rico, um desses jantares é sempre monótono.
Abraço,
Daniel

São disse...

O dinheiro, de cereteza, que não nos oferece a felicidade.

Mas trazer-nos infelicidade também duvido que traga.

Uma noite de bom repouso.

Carla disse...

porque nem sempre a riqueza da vida está no dinheiro que se possui
beijo

Mare Liberum disse...

Vim deixar-te um abraço grande. Apesar de ausente,jamais te esquecerei, João.

O dinheiro não traz, por si só, a felicidade. Múltiplos são os factores que nos podem fazer sorrir.

Bem-hajas!

Beijinhos