
Havia um sapateiro que trabalhava á porta de casa todo o santíssimo dia cantava tinha muitos filhos que andavam rotinhos pela rua pela muita pobreza e à noite enquanto a mulher fazia a ceia o homem puxava da viola e tocava os seu batuques muito contente ora defronte do sapateiro morava um ricaço que reparou naquele viver e teve pelo sapateiro tal compaixão que lhe mandou dar um saco de dinheiro porque o queria fazer feliz o sapateiro lá ficou admirado pegou no dinheiro e à noite fechou-se com a mulher para o contarem naquela noite o pobre já não tocou viola as crianças como andavam a brincar pela casa faziam barulho e levaram-no a errar na conta e ele teve de lhes bater ouviu-se uma choradeira como nunca tinham feito quando estavam com mais fome dizia a mulher e agora que havemos nós de fazer a tanto dinheiro enterrar-se perdemos-lhe o tino é melhor metê-lo na arca mas podem roubá-lo o melhor é pô-lo a render ora isso é ser onzeneiro então levantam-se as casas e fazem-se de sobrado e depois arranjo a oficina toda pintadinha isso não tem nada com a obra o melhor era comprarmos uns campinhos eu sou filha de lavrador e puxa-me o copo para o campo nessa não caio eu pois o que me faz conta é ter terra tudo o mais é vento as coisas foram-se azedando palavra puxa palavra o homem zanga-se atiça duas solhas na mulher berreiro de uma banda berreiro da outra naquela noite não pregaram olho o vizinho ricaço reparava em tudo não sabia explicar aquela mudança por fim o sapateiro disse à mulher sabes que mais o dinheiro tirou-nos a nossa antiga alegria o melhor era levá-lo outra vez ao vizinho dali defronte e que nos deixe cá com aquela pobreza que nos fazia amigos um do outro a mulher abraçou aquilo com ambas as mãos e o sapateiro com vontade de recobrar a sua alegria e a da mulher e dos filhos foi entregar o dinheiro e voltou a sua tripeça a cantar e trabalhar como de costume
VIALE MOUTINHO
VIALE MOUTINHO