sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Cada tacho é um tacho



O texto do tacho

Alfaia indispensável em cada lar
para comer e chorar por mais
dar força a quem lhe falta voz para gritar

Quando cheio de paparica
toda a gente ri
toda a gente grita
por mais
e por menos que reste
o rapam pegando num naco de pão
ou com a concha
ou com a mão

Sopa da pedra
guisado de coelho
torresmos
também em ebulição
se transforma em poesia
a ferver mentiras
como o povo diz
e com razão
quando tem apenas água
quando lhe roubam o pão

Muito se diz e faz
à volta de um tacho
até dá para cantar
do fundo do coração
e muitos ousarão dizer
Que graça qu’ é u tacho
Ponto de exclamação

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dia de Reis



Na soalheira tarde de Reis contemplei
Um mar sem horizonte entre as dunas
Correndo descalço contra a maré
Competindo com o atleta que é meu pé

Infinitas leivas de espuma esvaíam
Sob o meu raso e ondulado plinto
Aprendiz andante sobre as águas
No aterro extenso areal afinco

Terminada a vida que foi
O caça polvo adormeceu
Na areia húmida da praia
Lançado ao mar à costa deu

O tempo não o pode abrasar
A nova maré cheia o faz voltar

Nesta luz de tarde quente
O Rei agradou a seus pajens
E ao fim do dia elevo
O meu avelhentado presente
No meu olhar contemplando
Lavado pelo ocaso tempo

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Aniversário do jo ra tone

Ao fim do dia, estando os dois sozinhos em casa, nada melhor para comemorar o meu aniversário de uma forma muito simples.
Dois bifes de vaca grelhados na brasa.
Como o tempo não está bom para sairmos, decidimos compor a mesa bem junto à lareira e improvisar o jantar.
O dia não me permitiu fazer o que tinha em mente - comprar um leitão para assar no forno a lenha, e convidar os amigos que estivessem disponíveis para vir e comer também uma fatia de bolo caseiro.

- Vê lá se encontras aí umas velas de aniversário!
- Quantos anos é que são?
- Então não sabes? Somas quatro aos teus e já sabes quantos anos são!
- Eu já fiz vinte e um! (Gargalhada!!!)
- Essa teve muita piada!
Com o mundo a rodar tão depressa, até nos esquecemos da nossa idade!
- Não quero vinho!
- Aproveita porque deste não aparece todos os dias na mesa.
- Pickles também não quero!
- Fazes mal porque são caseiros e são bons a acompanhar o bife de vaca! Em qual bolo é que coloco as velas?
- Naquele que vais comer! Bem sabes que não posso comer doces à noite!
Coloquei as velas no grande palmier que a pastelaria regional costuma confeccionar de modo muito avantajado.
Abri a garrafa de champanhe que pouco tempo antes tivera posto no congelador.
E brindámos… por mais um ano.

[Obrigado Senhor.]

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Feliz Natal


Boas Festas Feliz Natal para todo o Mundo

domingo, 12 de setembro de 2010

Aventura depois da sesta



Este domingo após o almoço e uma sesta, peguei no carrito, e com a esposa partimos para visitar os meus pais.
Pensámos dar uma volta maior, percorrendo caminhos desconhecidos entre os loiros arrozais. Pela mota do rio que nesta altura está seco, pude ver que uma grande parte foi limpo com máquinas próprias, para receberem as águas do próximo Inverno.
O arroz encontra-se na fase final de amadurecimento, e não tarda que as ceifeiras (mecânicas) iniciem o seu trabalho.
Foi uma pequena aventura, (porque às vezes gosto da aventura), num local onde existem diversos cruzamentos de caminhos, que muitos vão embocar em locais sem saída, nas centelhas dos arrozais, valas ou pequenas pontes de madeira onde não podem circular veículos pesados. Caso se tornasse deveras complicado, teríamos que fazer marcha-atrás e seguir pelo caminho antes percorrido.
Subitamente num local escondido encontrámos um caçador (meu conhecido) e, sentado, de espingarda em punho, fazia uma espera às rolas. Após uns minutos de conversa indicou-me um caminho que iria dar à povoação. Continuei, mas com mais dificuldade, visto que o caminho era mais indicado para veículos todo – o – terreno. Transpusemos alguns riachos que levavam pouca água, onde se podiam ver alguns lagostins que com os braços levantados suplicavam que não os atropelasse. Mais adiante uma casota de um pastor e muito próximo dali uma fonte que brotava água por três bicas. Depois de matar a sede continuámos até encontrar caminho melhor e mais seguro que nos guiou à aldeia










sábado, 31 de julho de 2010

O livro dos fiados










No sótão do velho casaréu
Entre pó e teias de aranha
O livro dos fiados guardado.

Num baú de um amigo
E depois de tudo pago
Na data foi arquivado.

Petróleo azeite cloreto
Arroz massa e bacalhau
Uma conta de 30 escudos.

Nomes dos que já partiram
Fregueses nesta terra de paz
E de todo não sou capaz
Perpetuar este viver passado.

O saber naquele tempo
Na escola de seu pai aprendido
Dele fizera um homem às direitas
Contra ele nunca se enganava.

Como quisera ir mais além
Um empréstimo contraiu
E pagadas todas as letras
No vestido da pequerrucha
Para assim todo o mundo ver
Pelo entrudo as exibiu
Liberto d'um grande dever.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A visita






- Então não vai visitar a sua irmã que também está sozinha?
- Ela é que havia de vir visitar-me que é mais nova do que eu…e tem melhor perna.
Aparelhei a mula à carroça e num Domingo à tarde lá fomos visitar a irmã da Ti Maria.
- Até me admira vires aqui! Vieste porque te trouxeram, senão ainda não era hoje.
- Então estás boa?
- Eu estou e tu?
- Sabe Deus!
Após uns minutos de apresentação, a conversa muda de rumo:
- Hoje só comem lambarices, iogurtes, não são como dantes, vender figos como eu andei com uma cesta à cabeça a correr de porta em porta. E quem é que hoje anda de manhã à noite acarvados na água a mondar arroz para ganhar meia dúzia de tostões!... Chegava-se ao meio dia, íamos comer umas batatitas já azedas. Hoje, os novos é só competadores e não fazem mais nada que é só falar com aquilo nas orelhas… passam a vida nisto.
- Olha lá tu não sabes o que dizes! Tu desde sempre foste muito mimosa! - Respondeu-lhe a irmã. - Nunca soubeste o que era fazer uma pabeia de mato, nunca andaste à frente das vacas ou agarrada à charrua como eu andei! Está calada! mandaram-te aprender costura pó Pedrógão, andavas sempre à sombra. Foste muito mimosa!
- Não sei o que tu dizes! Daqui a pouco já nem oiço nem vejo!
(risos)
- Só ouves o que te convém! Se fosses mas é à fava mais a conversa!!!
Alguns minutos depois, acenava-me para irmos embora para casa… para não ouvir da irmã o que não lhe interessava.
Chegámos, já o sol se tinha escondido no outro lado da serra.