quarta-feira, 28 de maio de 2008

Banhos da Amieira



Situadas com vista esplêndida para os arrozais, atravessadas pela Linha do Oeste, estas termas foram as mais antigas da região, onde chegou a haver um posto de engarrafamento de águas que eram distribuídas para vários pontos do país.

Há poucos anos um violento incêndio que começara a quilómetros de distância, vindo em sua direcção, não poupou as suas velhas instalações e o seu lindo espaço verde. Não deixou vestígios da sua densa mata de seculares plátanos e mirtáceas, e uma grande variedade de arbustos.

A camada de húmus onde os patos bravos faziam os seus ninhos e que as pessoas extraíam para os seus vasos, desapareceu.

Foi um local propício para piqueniques, onde levei várias vezes a família, munido da manta e do farnel, porque sabia que os pequenos faziam uma festa quando viam passar o comboio, ou a auto-motora.

Hoje a água tépida continua a brotar das bicas das fonte, e algumas pessoas vão buscar alívio para as suas peles doentes, artrites ou outro tipo de doença. Nos dias de verão, em que a água escasseia nas torneiras, tractores e pequenas camionetas transportam tanques de água para consumo ou para as regas.

Também na época balnear, os banhistas após a permanência nas praias vizinhas não deixam de passar e tomar um banho de balde ou de regador para tirar o salgadiço, para assim manterem a sua pele sempre saudável.

Esperamos que os responsáveis façam deste espaço um local de lazer que todos gostaríamos de ver no futuro.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Almártega




Desde muito cedo, pensei fazer algo artístico para deixar aos meus descendentes, às gerações vindouras. Não é que me considere um homem das artes, mas pretendi medir, assim, as minhas capacidades técnicas ao nível da pintura e da escrita, e logo comecei a experiência quando achei o tempo propício para o fazer.

Nas várias e demoradas deslocações, escolhia um local recôndito, ou por vezes dentro do carro, e pegando no material de pintura, ia dando umas pinceladas e, pouco a pouco, fui fazendo uma pequena colecção.

A pintura que destaco, é para mim uma obra de grande valor estimativo, porque é a aldeia onde viveram os meus bisavós, em pleno século XIX. Almártega é o seu nome.

Situada no sopé da Serra do Sicó, metida no seio de denso arvoredo, atravessada por um ribeiro de água límpida, é um local deveras sossegado onde se pode admirar a fauna e a natureza no seu estado selvagem. Outrora uma povoação cheia de história e tradições, encontra-se hoje desabitada e em elevado estado de degradação, onde restam apenas alguns muros, e muitos silvados.

Passados que foram trinta anos, é difícil fazer uma pintura idêntica, porque a paisagem neste momento está muito diferente, o que me levou naquele tempo a pintá-la para a recordar e perpetuar, ao longo dos tempos.
(...)
Para executar esta pintura tive de me deslocar ao local durante vários dias, munido de um cavalete. Durante horas sem conta fui pintando este quadro, aproveitando ao mesmo tempo para passar parte das minhas férias nesse Verão.

A todos aqueles que respeitam o ambiente, é recomendável a visita a este local único, selvagem, onde poderá desfrutar e admirar a sua paisagem natural, a sua fauna, e respirar o ar mais puro na sua essência. Poderá ver a sua imagem reflectida nas águas cristalinas do riacho, e também, com um pouco de sorte, poderá ver um ou mais pampos, animais que estão em vias de extinção.

Dado o valor estimativo desta obra, tinha de a publicar para que todos a possam apreciar. Se quiserem chegar até Almártega, um dos, ainda, paraísos deste país... só a pé ou em charrete.

sábado, 10 de maio de 2008

Um estranho bicho

Quando a minha mãe ia à vila comprar alguma coisa para vender na loja, pedia-lhe que me levasse com ela porque eu não era tão guloso como a mana. Não era preciso pedir, a minha mãe bem sabia o que eu queria (um pão de deus ou uma boneca para comer).

E a alegria com que eu ficava quando o meu pai chegava do “longo curso”! Trazia sempre alguma coisa para oferecer aos dois filhos. Um dia fez-nos uma surpresa. Trouxe um bicho muito estranho que era mais ou menos da minha altura. Tinha uma cabeça, dois olhos, uma boca, uma data de pernas com buracos. Perguntei-lhe, disse-nos que era um polvo.
Prestei toda a atenção ao que o meu pai fazia. Amanhou-o e, depois de limpo, dependurou-o ao sol longe do alcance dos gatos ou dos cães, dizendo que depois de seco era muito bom para comer. À noite retirava-o, e de dia voltava a pô-lo no mesmo sítio.
O tempo passava e eu com o desejo de provar aquele petisco, que imaginava ser tão bom como a bexiga do porco no fumeiro. Estava sempre à espera que o meu pai desse o primeiro corte com a faca no polvo, para assim eu poder comê-lo.
Estava quase seco quando um cão vadio, passando por ali captou o cheiro do polvo e sem que ninguém desse conta, conseguiu roubá-lo e arrastando-o pela rua deserta, à vista dos transeuntes, que também acharam estranho tal coisa, levando-o para o seu esconderijo para depois o comer.
Grande refeição teve aquele cão vadio!

Ainda hoje estou para conhecer o sabor do polvo seco ao sol. Nunca vi tal coisa à venda no mercado que pudesse comprar.
Alguém tem um bocadinho que me mande por correio? Eu gostava de lhe dar umas dentadas!

Mas hoje o polvo é de outra qualidade…

sábado, 3 de maio de 2008

Na Caserna

Farto de estudar, chegou a altura de cumprir o serviço militar.

Passados que foram alguns anos, após o 25 de Abril, fui chamado para a tropa.

Para que raio querem um jovem como eu na tropa?
- Não tenho nenhum jeito para a guerra, não sou a favor dela!
Contudo tive a sorte de ir para o quartel mais próximo.
Ao receber a farda, fiquei cá com um par de botas... que, por serem pequenas e porque não deu para trocá-las com ninguém, tive que as usar e estragá-las quanto mais rápido melhor, para me darem outras. Em marcha fazia por oscilar um pouco, pensando que me mandavam para casa, mas não pegou, pois lembro-me que no pelotão havia um coxo que ganhava sempre as corridas. O raio das botas deformara-me um dos dedos do pé direito.

O meu pai comprou-me uma Tryal de Cross na qual regressava só aos fins-de-semana a casa. Passado algum tempo, e porque já tinha carta de condução, podia levar o Morris Marina, preto, a gasóleo. Sempre que chegava à porta d’armas, tinha que sair do carro para o sentinela ver que era eu mesmo, pois este insistia em fazer umas manobras de continência com a arma, que eu não merecia. Pensava ele que eu era uma alta patente militar!
Feita a recruta, chegou o dia do juramento de bandeira.
Envaideci quando na formatura em parada, ouvi chamar pelo meu nome para receber das mãos do senhor comandante o prémio de melhor atirador da companhia de comando.
Não sei como consegui tal mérito de melhor soldado de tiro ao alvo, nem porque é que a partir daqui não virei caçador ou atirador desportivo. A visão é simples:
Sou contra as armas, contra a guerra e contra todo o tipo de violência.

Mesmo não gostando de whisky, para o dia do meu aniversário, pedi a um amigo que me trouxesse de minha casa uma garrafa, para eu oferecer um gole aos camaradas. Este entregou-a ao cabo-dia e quando a recebi apenas restava um pouco no fundo, porque a garrafa de Dymple fora parar às mãos de um soldado que tinha o mesmo apelido.

Tropa! Não tenho saudades desse tempo, se bem que fiquei mais bem preparado fisicamente, mas não me correu lá muito bem: As refeições indigestas, aquele mal-estar, as noites mal dormidas, o alvoroço na caserna, as noites passadas no casino, onde investíamos o pré recebido.
Não foi das melhores alturas da minha vida!