quarta-feira, 30 de abril de 2008

A visita da ASAE

Chefe à Cozinheira:

-Cozinheira! Dado que amanhã somos visitados pela ASAE, determino que a nossa equipa esteja formada, com farda de trabalho, no parque de estacionamento, onde darei explicações em torno do raro acontecimento que não acontece todos os dias. Se por acaso chover, nada se poderá realizar e, neste caso, a equipa fica dentro do salão de chá.

Cozinheira à Ajudante de Cozinha:

- Ajudante de Cozinha, de ordem do nosso Chefe, amanhã haverá uma visita da ASAE, em farda de trabalho. Toda a equipa terá que estar formada no parque de estacionamento, onde o nosso chefe dará as explicações necessárias, o que não acontece todos os dias. Se chover, o acontecimento será mesmo dentro do salão de chá!

Ajudante de Cozinha ao Empregado de Mesa:

-Servente de Mesa, o nosso chefe fará amanhã uma visita da ASAE, no parque de estacionamento. Se chover o que não acontece todos os dias, nada se poderá realizar. Em farda de trabalho, o chefe dará a explicação necessária dentro do salão de chá.

Empregado de Mesa aos Clientes:

Estimados clientes, amanhã para receber a ASAE que dará a explicação necessária ao nosso chefe, o acontecimento será em farda de trabalho. Isto, se chover dentro do salão de chá, o que não acontece todos os dias.”

sábado, 26 de abril de 2008

Acontecimento marcante


Brincávamos na hora do recreio, numa segunda-feira de manhã. Era dia de mercado.
A sirene dos bombeiros, no cimo da torre da igreja, fazia um barulho ensurdecedor porque ficava a uma escassa centena de metros do Externato. Os mais entendidos logo disseram:
- É acidente dentro da vila!
Os alunos mais velhos, porque tinham autorização dos pais, saíram a correr movidos pela curiosidade, em direcção ao centro da vila.
Passado algum tempo, já no final do recreio, o meu espanto quando vi dois homens passar na estrada contígua ao recreio munidos de uma padiola, na qual transportavam algo coberto com um pano de cor escura, talvez um cobertor. Pelo braço dependurado que baloiçava ao compasso dos dois, pude ver que era o corpo de um homem. Iam em direcção ao campo-santo que ficava a curta distância da escola.
Os colegas trouxeram a notícia.
Foi um homem e uma mulher de Santo-Egídio que morreram esmagados pelos taipais de uma camioneta da pedra, na rua estreita.
A passagem das camionetas era constante. Vindas da serra, carregadas de pedra para a estação da CP, onde enchiam vagons para os reparos e construção da linha.

Maldita rua que teimava em ceifar vidas!
Rua estreita feita em calçada de granito com inclinação, única via de passagem na altura para todo o tipo de veículos.
Um condutor subindo com a camioneta carregada, para não perder a velocidade, não avisou os dois transeuntes que se haviam refugiado cada qual na sua ombreira das portas fechadas de um edifício.
Hoje ainda são visíveis as ranhuras nas paredes, causadas pelo roçar dos taipais das camionetas de carga.

Vim a saber mais tarde que os dois eram os meus avós paternos.
O meu avô... partiu, e a minha avó, politraumatizada, foi transportada aos HUC, onde permaneceu vários meses internada em risco de vida.
Depois deste mortal acidente não houve qualquer responsabilidade da parte do camionista, ou da empresa para quem trabalhava.
O tribunal foi mais a favor da empresa, porque as suas testemunhas representaram melhor papel. Estávamos no tempo em que alguns tinham o poder de “comprar” quem quer que fosse - Tribunais, GNRs ou testemunhas oculares.

Os infelizes sofredores herdeiros, tiveram que vender património para pagar os custos com o funeral e o internamento hospitalar.

Lá se foi a choupana na serra!

domingo, 20 de abril de 2008

Faça-se ouvir! ... Reclame!

Senhor Francisco.

Há dois dias atrás fui à sua loja e fiquei de boca aberta por ver que os seus empregados não quiseram devolver-me o dinheiro que eu paguei pelo rádio que agora avariou. Custa-me a crer como pode governar assim o seu negócio com tanta incompetência. Já ontem para aí telefonei por duas vezes e por duas vezes me deixaram à espera ao telefone. Estou farta. Ainda só vai em dois anos e o rádio agora deixou de trabalhar. Não sei se foi por causa dele andar sempre a mandar bolas e a tirar bolas a mandar bolas e a tirar bolas como o rádio do Esquim Adão que também nunca prestou para nada. Ainda que não seja capaz de encontrar nem a caixa onde ele veio e a factura e a garantia que lá deve estar juntas lembra-me muito bem de o ter comprado aí. Se o senhor é mesmo dono dessa loja quero que me telefone depressa para que este caso fique resolvido uma vez por todas. Quero de volta todo o meu dinheiro que dei pelo rádio no prazo de duas semanas – pode ser que vá aí amanhã à vila e deixar-lhe o rádio mas se não puder ser mande alguém aqui vir buscá-lo.
Sem mais nada para dizer
a muito descontente senhora Maria.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A caldeirada das batatas

Depois de tantos anos à luz do pitromax e do candeeiro a petróleo e outros, chegou a tão esperada luz eléctrica.
O ti Joaquim pensou logo em comprar uma televisão, para que os seus clientes pudessem ver alguns programas e alguns filmes e, daí, vir a vender mais os seus produtos.
A rapaziada passou a frequentar mais vezes a casa e, por vezes até se esqueciam das horas, ficando até tarde na jogatana. E às vezes não satisfeitos, os mais novos, quando o ti Joaquim dizia que eram horas de fechar, levavam uma grade de cerveja para a rua e iam jogar a bola para a estrada, até altas horas do noite. O vizinho mais próximo é que não estava pelos ajustes, pois sempre que de noite queria dormir, era inquietado pelo barulho que estes faziam, e pensou apresentar queixa.
Numa noite a guarda republicana bateu-lhe à porta, que estava fechada, pois já passava da hora de encerramento do estabelecimento. Num ápice tiraram todas as bebidas que estavam na mesa, cerveja, copos, e só depois é que foi aberta a porta.
Como tinha sido um acuso, o ti Joaquim teria que ira tribunal. Mas teve algum tempo para pensá-la.
Em tribunal todos iriam dizer a mesma coisa. Que andaram todos a arrancar batatas nesse dia para o ti Joaquim e que este à noite lhes ofereceu uma caldeirada de batatas como compensação, estando todos ali a cear até tarde por conta da casa.
Presentes a tribunal, todos responderam da mesma forma, e o doutor juiz dirigindo-se ao mais velho de entre eles, coxo e um pouco surdo, perguntou: “Então as batatas eram boas?”. “Sim, Sr. Doutor Juiz! Mas o bacalhau era muito melhor! Era cá cada posta!”.
“Pergunto se as batatas que arrancaram eram boas!”. “Sim eram boas, era cá cada uma que até pareciam duas”. E assim se safaram da transgressão. Foram mandados embora, sendo o ti Joaquim absolvido.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A sensibilidade ao estado do tempo

De uma forma ou de outra somos influenciados pelo tempo
Muitas das nossas indisposições, como por exemplo dores de cabeça cansaço nervosismo, perturbações circulatórias, são frequentemente atribuídas ao tempo.
Quanto mais agrestes forem as condições atmosféricas, tanto mais atenção lhes é dedicado: As tempestades, quedada de granizo, as secas prolongadas, as vagas de calor excessivo ou frio intenso.
Diz-se que certas pessoas começam por se queixar de pontadas e outras sensações dolorosas, um ou mais dias antes da chegada do mau tempo, vindo a tornar-se realidade em alguns casos. É hábito comentarem entre si:-“dói-me o joelho direito…Amanhã chove,” Vamos ter tempo frio, já me está a doer um dente”, Tenho uma pontada nas costas, vem lá a trovoada”.
A ciência através da biometereologia, tem-se debruçado sobre este tema, mas até agora não encontrou uma explicação satisfatória para a influência biológica do estado do tempo, porque cada indivíduo tem seu próprio padrão de reacções que se modifica em muitos casos ao longo do tempo de vida. Também os factores profissionais e familiares podem prejudicar mais a nossa saúde do que o tempo.
As pessoas mais saudáveis com a chegada das massas de ar frio, sentem um efeito revigorante e estimulante.
O aumento do número de indivíduos sensíveis ao estado do tempo, em todos os grupos etários tem necessariamente as suas causas. O nosso modo de vida pouco saudável é o grande responsável por este facto, nomeadamente o nosso comodismo e a falta de exercício físico.
Um organismo que não se exponha regularmente aos estímulos naturais do calor e do frio, não se adaptarão tão bem às influências climáticas, enquanto que quem trabalha diariamente ao ar livre preserva a sua resistência natural e apenas reagirá às variações extremas do tempo.
A má qualidade do ar, cujo indivíduo isolado pouco ou nada pode fazer para o minorar, contribui para as nossas indisposições porque somos obrigados a respirá-lo, contenha ele poços ou muitos elementos nocivos.
Até hoje ainda não se esclareceu completamente quais as forças meteorológicas que influenciam de facto a nossa saúde. Existe uma relação confirmada, por exemplo, entre a poluição atmosférica e as doenças das vias respiratórias e entre o calor sufocante e as perturbações circulatórias.
Os conhecimentos adquiridos sobre a sensibilidade ao estado do tempo têm um denominador comum. Em última análise as causas mergulham na civilização moderna. O processo caso não seja orientado por caminhos racionais e criteriosamente pensados torna-se um grande fardo para a nossa saúde.

Cabe-nos agora fazer algo para nos precavermos dos seus efeitos perniciosos

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A argumentação do médico

Exmo. Sr. Dr. Juiz, caro auditório,
é com muito agrado que estou aqui.
Obrigado pela oportunidade que me deram, para defender a minha posição de vir a ser incluído no grupo dos eleitos para a nova geração que se aproxima.

Em primeiro lugar quero dizer a este tribunal, e que fique bem claro, que não sou homossexual. Sou um cidadão de conduta normal e, por isso, peço que não dêem ouvidos a pessoas de má fé que ousam difamar a minha pessoa.

Sendo assim, e relativamente ao assunto que aqui está posto em questão, começo por dizer que, uma das principais figuras que irá ocupar o bunker, será certamente a minha. Não vejo ninguém na lista, que esteja acima das minhas capacidades como cidadão e como profissional.
Como tal, lutarei para recolher ao abrigo, livrando-me de apanhar com tamanho calhau na cabeça.

Excelência!

Estando o bunker repleto de bens de primeira necessidade, estarão também incluídos, certamente, equipamento médico e medicamentos para combater todos os tipos de maleitas!
E quem melhor do que eu para diagnosticar e atacar as actuais ou as novas doenças que venham a surgir?
Porque como sabemos as doenças sempre existirão!
Quem melhor de entre os eleitos para receitar e, assim, as curar? A função do médico na sociedade é curar e olhar pela saúde das pessoas!
E digo mais:
Na barca de Noé, no tempo do dilúvio, também seguiu um médico de certeza!
Não foi Reverendíssimo padre?

São vinte e cinco anos de carreira Sr. Dr. Juiz!... A Nova Terra precisa de gente como eu para não recuarmos ao homem das cavernas! Também contribuirei para dar bons frutos, predispondo-me a "juntar os trapinhos" com uma das mulheres que venha a ganhar um lugar no bunker, a fim de dar continuidade a esta bela criatura, denominada ser humano.
Farei um grande trabalho para bem da humanidade, como progenitor e como parteiro...

Agora desviando-me um pouco, e porque o cientista se me dirigiu numa atitude provocatória, se me permite, gostaria de dizer que ele é um elemento desnecessário.

Porque certos cientistas usam de uma certa loucura nos seus trabalhos laboratoriais, e penso que este não deixaria de levar consigo, uma série de embriões humanos os quais, manipulando-os, transformaria em seres muito esquisitos … O homem passaria a ter uma fisionomia muito diferente da actual …

Por isso pedia ao júri que ponderasse bem na sua decisão.

Muito obrigado a todos pela atenção que se dignaram dispensar-me.


Após a reunião, o Júri decidiu-se por:
A prostituta, o electricista, o agricultor e a bancária.

«Este trabalho de foi feito com o objectivo de “Quebrar o gelo”, incentivar à comunicação em público, avaliar o poder argumentativo, evidenciar competências do adulto e demonstrar capacidade de reflexão».

sábado, 5 de abril de 2008

Actividade Lúdica

«Ontem, no Jornal da Noite, uma noticia assombrou a humanidade:


Um meteoro com 10 km de diâmetro aproxima-se a passos largos da Terra. Os cientistas prevêem a sua chegada dentro de uma semana. Devido a esta calamidade, os governos das maiores potências mundiais decidiram sortear um número restrito de pessoas para dar continuidade à espécie humana.

O impacto será superior a força explosiva de 100 bombas atómicas. Nenhuma espécie animal ou vegetal poderá sobreviver à superfície terrestre. Nos próximos 10 anos, o nosso planeta revelar-se-á num primeiro instante, um verdadeiro deserto. Perante tal cenário, a única solução será usar o abrigo nuclear subterrâneo que fora construído nos E. U. A.. Este abrigo contem os bens essenciais para a sobrevivência de um número limitado de pessoas durante 10 anos. Compete ás potências mundiais seleccionarem 4 pessoas para serem integradas no abrigo a fim de dar continuidade à espécie humana.

Assim, os indivíduos serão levados a um júri, argumentando em sua defesa e justificando as razões pelas quais será importante a sua entrada no abrigo.

Os indivíduos terão as seguintes características:

1) Professora, 33 anos, fez voto de castidade;
2) Padre, 40 anos, sofre de gula;
3) Cientista, 69 anos, esquizofrénico;
4) Prostituta, 27 anos, com tendências depressivas;
5) Médico, 45 anos, homossexual;
6) Cozinheira, 51 anos, alcoólica;
7) Agricultor, 30 anos, acusado de pedofilia;
8) Electricista, 23 anos, toxicodependente;
9) Professor aposentado, 70 anos, filatelista;
10) Bancária, 29 anos, consumidora compulsiva.»

Para o desenvolvimento desta actividade, estas dez pessoas terão de apresentar a sua argumentação a um Júri composto de 5 Advogados e 1 Juiz, os quais escolherão as 4 de entre elas a ter direito a recolher ao abrigo.

Bem!
Sempre é melhor uma batalha destas, do que uma guerra em torno de um telemóvel!
Por sorteio terei que vestir a pele do! …da! ... Postarei depois a minha argumentação.

Até lá!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

"Mandavir" - o cão-máquina

Fazia tudo o que eu lhe mandava.

Gostava de se sentar à lareira, quedo, a olhar para o crepitar da lenha que ardia nos dias frios de Inverno, gostava de caçar, usar óculos de sol e andar de motoreta. Cumprimentava sempre qualquer pessoa com um passou-bem, quando esta lhe dava atenção. Enfim, tive tempo suficiente para o treinar e domesticar como deve ser.

Quando o meu pai se deslocava de noite em serviço, estava sempre à espera que este lhe fizesse um sinal para entrar no carro. Por vezes, porque não podia levá-lo, este instintivamente sabendo para onde ele ia, corria sem grandes pressas, e esperava o dono no seu regresso a dezenas de quilómetros de casa. Aconteceu algumas vezes ele esperar num cruzamento de estradas, sentado à espera. Abria-lhe a porta, e logo se punha com as patas dianteiras no tablier, muito atento para ver algum coelho que surgisse num ápice.

Há anos atrás havia muita caça, coelhos eram a dar com um pau, e sempre que aparecia algum diante do carro, bastava abrir-lhe a porta, e ele agarrava-o. Não era necessário gastar cartuchos, ou fazer qualquer estrondo em plena noite.

Assim que o dono chegava de um serviço, o Mandavir gostava de dormir boas sonecas debaixo do carro, porque o calor do motor criava um ambiente muito acolhedor para ele passar algum tempo.
Uma vez, porém, estando ele demasiado ferrado no sono, tardou em sair debaixo do carro quando já estava em movimento e uma roda passou-lhe por cima de uma perna.
Saiu a ganir, ao mancão, para a adega onde se deitou num saco de linhagem. Fiquei comovido ao vê-lo a olhar para mim com as lágrimas saindo-lhe dos olhos e a caírem para o saco.
Nunca tinha visto…
Pensava que lágrimas eram apenas para os humanos.
Não deixava de olhar para mim com aquela cara triste e sofredora.
Como vi que a perna estava partida, coloquei-lhe três talas envoltas em ligaduras, e assim se manteve durante algum tempo.

Começou a andar lentamente até ficar totalmente recuperado.
Mesmo com a perna um pouco torcida (porque o veterinário não era especializado), continuou a sua tarefa de bom caçador, até ao dia em que foi mesmo embora…
Dormia uma sesta no asfalto quente de um dia frio de Inverno, quando um condutor que circulava pela estrada, pensando que o animal estava morto. Desviou-se no momento em que ele se mexeu e…
Ficou pálido... porque o conhecia.
Mas não havia nada a fazer!