terça-feira, 24 de junho de 2008

Maldita cafeína

O que é isto que me impede de adormecer
Horas e horas a fio acordado?
A noite já vai longa e eu aqui neste estado

Bem pensado agora já sei
O descafeinado que pedira viera trocado
Maldita cafeína que pões o poeta de lado

Se ser poeta é cruzar palavras noite dentro
Imaginar estrelas em quarto escuro
É acordar com deleitamento a mulher amada

E ao romper da aurora cansado
Ser pedra por momentos
Por todo este trabalho deitado

Minutos que parecem horas
Levito por toda noite delirar
Culpa da troca do descafeinado…

Virei a ser poeta por tanto magicar?

terça-feira, 17 de junho de 2008

A Casa de Campo




Há muito que tinha pensado na casa de campo dos meus sonhos, e pouco a pouco, nas horas vagas fui construindo os painéis sob a alçada do velho mestre carpinteiro.
Deslocando-me aos fins-de-semana, e escolhido o sítio ideal, comecei a edificar os pré -fabricados sobre uma das pontes de madeira, que unem as duas quartelhas, pertencentes ao meu pai.

Chegado o tão desejado dia da inauguração, partimos logo de manhã para o local, para passarmos um dia diferente. No local, depois de alguns instantes, a pedido da mulher, tive que voltar a casa porque se tinha esquecido do ferro de engomar ligado. Passado meia hora estava de regresso à casa de campo, e deparei-me com algo insólito.
Não entendia tão grande algazarra.

O Paidá, a quem deixara a cana de pesca, na tentativa de apanhar uma carpa para o almoço, fazia um enorme esforço para içar o que quer que fosse que estava preso ao anzol. Alguns peixes, antes da chegada dos químicos aos arrozais, podiam chegar a pesar até três quilos, o que significa que bastava um desses para servir uma grande refeição para nós os cinco.

A mãe segurava-o pela camisa, não fosse ele tomar um banho àquelas horas, puxado por uma grande carpa.

O Pipia, no telhado estendia a sua roupa molhada, pois tinha caído numa vala enquanto tentava apanhar uma réla. A confusão era tanta que a sua irmã não ouvia os seus gritos, indicando que algo estava a queimar na pequena cozinha. A Papoila, distraída, acabava de deixar torrar os crepes que eram para a sobremesa.
O Paidá continuava a puxar a arqueada cana muito lentamente, e eis que para espanto de todos, aparece, preso ao anzol, uma grande bota velha.

Mas que grande decepção! Lá se fora o tão desejado almoço! Peixe fresco frito com arroz de tomate e uns crepes. Até o Joyce se encontrava nervoso porque estava na hora do almoço e não podia ver a sua amiga Cabriolait a devorar o seu pequeno fardo de palha que a Joana não esquecera de levar.
Desanimados, regressámos a casa após esta aventura inesquecível

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Aldeia (des)encantada


(Miniatura do ti Joaquim)

Na aldeia, que mais parecia estar assombrada, algo de anormal acontecia.
Depois do casamento, as noivas adoeciam gravemente com doença desconhecida.
O médico era chamado, sempre à última da hora, quando já não havia nada a fazer.

Aconteceu que um dia um jovem recém-casado teve que o chamar porque a sua noiva fora acometida da misteriosa doença. O médico depois de a examinar disse ao marido que não havia nada a fazer, que se preparasse para passar a viúvo e que não duraria mais que quarenta e oito horas. Disse-lhe ainda que passado esse tempo fosse ao seu consultório para que lhe passasse a certidão. O jovem não se conformou, e pensou para consigo “ora eu há pouco tempo casado com uma bela mulher, é um desperdício ela partir sem que eu… nah, tem que haver uma solução!”
Deitou-se junto dela, imóvel, preocupado com os seus gemidos e lamentos.

Toda aquela santa noite, apesar da noiva doente, e porque eles se gostavam muito, foi de grande ternura, muito amor, muita paixão… Ela espreguiçando-se a meio da madrugada mandou o marido ir buscar um chá (chá de marcela, muito amargo, que mais parecia veneno) e bebeu-o em poucos goles, com muito gosto, e cheia de vontade de viver……

O médico estranhou a demora do jovem a chamá-lo e deixou que passasse mais algum tempo. Como não aparecia pôs-se ele a caminho da casa do casalinho. Pelo caminho ia perguntando se tinha morrido alguém por ali na aldeia. Respondiam-lhe que não. Bateu à porta e apareceu-lhe o rapaz todo risonho e diz-lhe, sem que o médico lhe perguntasse, que a sua noiva estava muito melhor.
- Chamaram outro médico? - Perguntou.

- Não! - Muito envergonhado o rapaz confessou-lhe o que tinha feito naquela noite.
Por fim o médico exclamou:
- Sim senhor! Quantas eu tenho deixado morrer! Se antes soubesse, teria receitado essa medicina.

Depois de ouvida esta história do ti Joaquim, pode-se chegar à seguinte conclusão, entre outras:
Naqueles tempos segundo as narrativas deste mestre, os noivos nem sequer dormiam um com o outro na noite de núpcias (as mães não deixavam), ou se o faziam, não pensavam em mais nada do que fazer projectos para o dia seguinte, e para o futuro. Da lua-de-mel não sabiam o que era ou simplesmente não existia nas aldeias. Passavam toda a noite a falar como iriam arranjar dinheiro para comprar uma junta de vacas, como conseguir uma grande adega de vinho, marcar os dias para cultivarem as terras, enfim a festa no lugar de continuar, terminava ali naquela noite.

Portanto é de salientar que, as noivas sendo mais sensíveis e mais vulneráveis que os noivos, adoeciam. Faltava-lhes, logo no início, o amor, elemento principal para a vida a dois.
Mas o ti Joaquim não foi nas couves! Deixou o trabalho para segundo plano!