terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Jerop'Sicó2008

Paciência!!

Roma e Pavia
Não se fizeram num dia!

Só posso dar a beber,
a provar, para o ano!

Jeropiga de Almártega
(Terras de Sicó)
Até lá...
está-se a fazer.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Ser Palhaço...Este Natal!

...Ser Palhaço...

É dar um abraço de alegria
A quem não tem
Fazer sorrir a tristeza
Afastar a noite
Nem que seja por um dia
É chorar,quando se não faz rir
Fazer doer o diafragma
Ou xixi nas calcinhas
É fazer ver a uma criança
O mundo real da fantasia
Ser foco das atenções
Centro universal de multidões

Encontrei-o um dia
Lavado em lágrimas à beira-mar.
- Porque choras meu Palhacinho?
- Roubaram-me as estrelas
Que um dia fiz sorrir
Hoje me faz chorar!
- A culpa não é minha
É do meu concorrente...

...O Pai Natal...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Amigos de Peniche

Num determinado sábado, um grupo de ex-combatentes no ultramar reuniram-se escolhendo desta vez um restaurante próximo de uma pequena aldeia no sopé do Sicó (mais uma vez a serra do Sicó). Comeram, beberam, divertiram-se e depois, já noite, o regresso a suas casas. Estes a que me vou referir, não percorreram mais do que uma dúzia de quilómetros, quando por razões óbvias o condutor, fora de si, travando bruscamente: "Ou saem vocês ou saio eu". Os que queriam continuar a festa pela noite dentro, olharam um para o outro e pensando a mesma coisa, saíram, e o condutor arrancou em grande velocidade, levando os casacos, documentação e dinheiro.
Sem qualquer orientação neste local estranho, dirigiram-se a uma pastelaria, que estava a fechar, beberam mais qualquer coisa e perguntaram onde poderiam encontrar quem os transportasse a Peniche. Indicaram-lhes uma casa a quilómetro e meio, e estes andando mais que essa distância foram a um café onde beberam mais um brandy cada.
Bateram à minha porta e ao abrir vi dois estranhos acompanhados com os meus vizinhos, e um frequentador do café. Num breve instante contaram todo o sucedido e pediram-me que os levasse à sua terra. Alguém por detrás acenava para que não o fizesse, e houve mesmo quem tivesse ligado à GNR, dando conhecimento da situação, o que responderam que não se justificava a deslocação a este local. Eu acreditei logo à partida que não estava na presença de dois malfeitores, talvez pelas suas idades, tive pena deles e pedi à minha esposa que me acompanhasse na viagem. Conversando pelo caminho, um deles pediu para contactar com a família, o que logo me disponibilizei fazendo a chamada em mãos livres e logo ouvimos a conversa. Pediu que os viessem busca a Leiria (metade do caminho) e assim aconteceu. Lastimavam-se do sucedido e comentavam entre eles. "Fulano para mim cortou! Nunca mais!
E quanto a você, fico muito agradecido por ter confiado em nós! Um dia que passar por Peniche, pergunte pelo pai das gémeas, que toda a gente conhece, e eu ofereço-lhe um cabaz de sardinha!"
"Obrigado amigo, não é preciso um cabaz, um quilo é suficiente e não deixarei de o procurar, quando passar por esses lados."
Este foi um caso excepcional, e tenho a certeza que os penichenses continuarão como sempre a ser amigos de toda a gente.
Está a fazer um ano, por esta altura do Natal, que este caso aconteceu.



(O Presépio cá de casa)


Feliz Natal para todos!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Em tempo de crise...limpam-se as florestas

O suor salpica-me a pele, pico-me numa silva, numa moita que invadiram o pinhal. A roçadora não pára de gritar. Quase desanimo ao ver a extensa área, sufocada pelas giestas e pelo matagal.
Alguém pensou em plantar giestas junto à sua casa, e as aves e o vento cuidaram de fazer a florestação.
Os pais quando chegam à meia-idade doam os seus bens aos filhos, eu e a mana fizemos a escolha e agora tenho muito que fazer.
Conhecer as propriedades, as suas limitações, e manter dentro do possível as matas limpas.
Mas como limpar três hectares de floresta sem ajudas do governo, sabendo eu que o pequeno agricultor também está de rastos?
Faço o que posso e quando posso.
É difícil suportar um dia intenso de trabalho, porque não estou acostumado a estes caldos,
mas… se limpar cem metros quadrados de mata por dia, conseguirei levar a minha avante.
Sinto-me bem quando saio de casa para cheirar a natureza, transpirar, tomar banho e exclamar:
-Descansa que o teu dia está ganho!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A tragédia... o horror...

Vinte e sete de Novembro, pouco tempo depois de ter adormecido, cansado da noite escolar, vários estrondos no exterior acordaram-me. Olhei o relógio digital, eram uma e dez.
- Raios! Lá está mais uma vez o gado no camião do vizinho às patadas … lá em baixo os frequentadores do café, que já beberam um copito a mais… ou será algum caçador furtivo da noite?
Os estrondos subiam de intensidade, e de repente …Oh JoAÃÃÃÃooo!
Dei um pulo da cama, fui à varanda, deparei-me com um grande clarão, fumo e faúlhas que vinham das traseiras, da parte lateral da minha casa. Desci e verifiquei que eram os anexos do meu vizinho que estavam a arder. Local onde guarda a lenha, a palha, tudo o que é necessário para a lavoura e consumo de casa.
Como as paredes naquele local são contíguas, enchi vários recipientes com água, e em pijama naquela noite gélida, através de uma escada de madeira, várias vezes subi ao telhado escorregadio pela humidade que se fazia sentir, e atirava os baldes de água para atrasar o avanço do incêndio.
Com a chegada de três corporações de bombeiros de concelhos diferentes, o incêndio foi extinto após duas horas e meia.
Tudo começou com as cinzas e brasas mal apagadas retiradas da lareira, que foram depositadas num local muito próximo da matéria inflamável, causando assim a destruição da casa de habitação quase na sua totalidade.
Após o rescaldo, tomei um longo duche bem quente e assim pude voltar à cama, deitar-me e levantar-me tarde com aquele inferno no consciente.
O cabo telefónico derreteu e fiquei sem comunicação durante este tempo. Fiz duas participações da avaria, e por duas vezes que os técnicos apareceram, retiravam-se, dizendo que iam comunicar ao chefe, pois aquele tipo de avaria não era para eles.
E agora... como já tinha saudades vossas!!!... Voltei… para pôr a net em dia!!!

sábado, 15 de novembro de 2008

Senta-te ao pé de mim

Deixa-me recordar o teu perfume
Quando nos abraçávamos
Inocentes, o nosso olhar os nossos beijos
Todo vibrava de estranhos impulsos.
O teu sorriso longe dos olhares
Que nos acenavam castigar.
Cedo conhecemos o amor
Que nos mantém felizes pela vida fora.
Linda, a mais bonita da aldeia,
Teu olhar radiado do poder de lua cheia,
Uma estrela retirada do firmamento,
Como a natureza pela manhã.
Percorremos alegres campos
Oferecia-te flores silvestres
Cheiro aromas e formosura
Tua pele macia
Fazia nascer em mim
Uma fonte de água viva
Que suavizava o coração.
Afinal era paixão
Quando sentia as tuas mãos,
Num jogo de perfeita sedução.
Agora, damos graças ao céu
Por continuarmos felizes
Porque esse amor permanece
Abençoado pelo alto
Contigo a meu lado
Ele se mantém novo...
...Fez nascer esta canção.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Um objecto que não é da idade da pedra.



Diz o ditado que para arranjar dinheiro, basta dar um pontapé numa pedra.
Ao passear pela praia deserta, deparei num objecto escuro que parecia um pedaço de raiz de árvore enegrecida pelo tempo. Dei-lhe um pontapé e …AU… Ui, esta doeu! Era uma pedra pouco vulgar daquela zona. Como teria vindo ali parar? Erodida pelo mar ganhou uma forma diferente do seixo. Apanhei-a e guardei-a até à altura em que comecei o estudo da mineralogia. Seria uma Olivina? O professor, como também tinha as suas dúvidas, levou-a a mostrar aos seus colegas da Universidade. Pela sua dureza, densidade, (risca o vidro), tinha que ser um quartzo. Cortei-a com um disco de diamante e provoquei-lhe uma fractura que pelo brilho, cor e com a ajuda da net pude verificar que é um “quartzo fumado. A cor deve-se a radiações emitidas por minerais radioactivos ou ainda à presença de matéria orgânica. Na antiguidade julgou-se que esta variedade de quartzo continha fumo no seu interior daí o seu nome. Durante séculos foi uma das pedras preciosas mais talhadas e procuradas, mas hoje em dia é uma gema modesta. O maior produtor mundial desta gema é a Suíça”.
Eu por cá continuo a dar pontapés nas pedras, mas em troca só apanho coices, ao ritmo do tempo medido pelo relógio de sol.
O mineral tem um peso de 524 gramas, e está à venda. 1€/gr.
Aproveite. :)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os governantes aprenderam com este?

Contam os antigos que havia um homem que era muito mau, rude, avaro, e que tinha muitos bens. Possuía quintas, terrenos, animais, dava trabalho a muita gente durante todo o ano. Era no arroz, nos olivais nas vinhas e noutras culturas.
Um desses trabalhadores em determinada época, fora uma mulher pobre, que mesmo no seu estado de gravidez, ainda podia trabalhar para ganhar o sustento do lar.
Um dia a caminho do local de trabalho, ao passar com uma amiga junto a um pomar de laranjeiras, os seus olhos brilharam ao ver tão deliciosos frutos, de boa qualidade. Eram da” baía”.
A sua amiga subiu uma pequena rampa, apanhou duas laranjas para ela e para o bebé que trazia no seu ventre.
“Não há nada que não se saiba”
O patrão de mau feitio veio a saber, e chamou a pobre mulher repreendeu-a, e obrigou-a a pagar as laranjas pelo valor de cem escudos cada uma. Muito triste pediu que lhe perdoasse, que não voltaria a cometer tal acção, mas este de imediato respondeu:
-Não!
Devido à miséria que existia também na altura, a mulher teve que pedir os duzentos escudos, e pegando no dinheiro foi a casa do sr.x entregar -lho. Este sacando as notas das suas mãos, rasgou-as aos bocados.
- Por favor não rasgue as notas, porque eu tive que as pedir!
- Rasgo sim senhor! E rasgo-lhe também a cara se não sair já daqui de pé de mim!
A mulher com tamanha dor partiu para casa a chorar……
Passado algum tempo a patroa, que soubera de toda a história, mandou um dos seus criados, sem que mais ninguém soubesse, entregar uma nota de mil escudos à infeliz…
O homem soberbo morreu...
E mais não digo para não ferir susceptibilidades.
Perguntei a quem contou esta história verídica, que tipo de fenómeno sobrenatural teria acontecido, após o enterro, ao que este respondeu:
- Não sei! Ninguém sabe explicar como aconteceu. Foi de noite concerteza.

sábado, 18 de outubro de 2008

Calculei eu

Então aqui vai o resultado do problema do post anterior:
Todos souberam fazer, de certeza, mas...

Capital (Co) é igual a 18000 euros ; Taxa (i)= 2% (semestral) O mesmo que 4% ao ano ;
Tempo (n)= 5 anos e 2 meses (5 mais, 2 a dividir por 12)o mesmo que 5,1666666

Juro (j) = Co * n * i …… Juro é igual a Capital, vezes a taxa, vezes o tempo
O Juro é igual a 18000, vezes 0,04, vezes 5,1666666. O que dá: 3719,999999 (± 3720,00 euros)

Se o banco apenas me deu 2610,00…ora portanto é só fazer as contas com máquina de calcular, à mão, ou então pergunta-se ao Guterres:

3720 menos 2610 é igual a 1.110Euros.
Filho da mãe!… Roubou-me mil cento e dez euros!...Que país este!!!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Calculem vocês bem!!!

Fiz uma aplicação de 18 000 € no Banco Poupolar Português,durante cinco anos e 2 meses, à taxa semestral de 2%,

Deram-me um juro total no final do contrato no valor de:
2 610 €.
Quanto é que o banco me roubou !? Ou beneficiou?!

sábado, 4 de outubro de 2008

O carro de sonho



Após longo tempo de espera, pude comprar o carro de sonho. Um buggy vermelho, escolhido pelas crianças, para melhor contemplarem a natureza e respirarem o ar puro durante as viagens. Pensámos, a um domingo, experimentá-lo e mostrá-lo aos avós que os pequenos já não viam há tempo.
De manhãzinha, partimos por entre vales e montes, e toda a natureza parecia sorrir à nossa passagem, até que de repente o carro parou.
Reparei, surpreendido, que fumarolas brancas saiam da parte dianteira, por um tubo que se havia rompido, vertendo toda a água. Pensava eu que o motor era idêntico ao do “dois cavalos”, que eu dera à troca… mas este tem um radiador.
Peguei no telelé para ligar ao avô, mas naquele lugar não havia rede. Tive que fazer uma caminhada, até que, dificilmente, pude fazer uma ligação. Estávamos a uma dezena de quilómetros de distância e esperámos pouco pelo avô que, com o seu jipão, rebocou o buggy até à sua quintarola.
Foi uma alegria para os mais novos, ao entrarem na quinta, quando se depararam com toda aquela bicharada à solta, em plena liberdade, sem se ausentarem para longe dos seus tratadores. Ficámos radiantes ao ver o grande e saboroso bolo de nozes e chocolate que a avó tinha acabado de fazer.
Passámos um dia diferente, afastados daquele emaranhado de betão e ar poluído da cidade.
Ao fim da tarde regressámos a casa, depois de ter resolvido a avaria com um pedaço de tubo que o avô usa para a rega.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Rabinos!

O ti Joaquim e os seus dois irmãos quando eram novos, eram muito rabinos, e
aproveitavam todo o tempo livre para se divertirem de qualquer maneira.
Certo dia, de manhã, ao receberem a visita de uma das suas primas, não perderam tempo e vá de lhe pregar uma partida.
Disseram-lhe que a mãe estava doente, e que por isso não podia tirar o leite às cabras, e pediram-lhe que o fizesse.
Ora, junto com as três cabrinhas estava também um chibo.
Inocente, inexperiente, coitadinha dela, começou por uma e tudo corria com normalidade, mas quando chegou ao quarto animal, este começou a espernear e a berrar com toda a goela.
Ela porém já muito chateada disse:
- Nem mé nem meio mé! Tens que dar leite como as demais!
Os rabinos, espreitando pela fresta do portão, riam-se que nem uns perdidos

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Com todo o respeito

Havia dois irmãos:
O Tóino e o Zé, da família dos canhenhos. O Zé, o mais velhaco, disse um dia para o Tóino:
-Oh Tóino! Queres ver que eu consigo fazer o nosso pai ladrar?
- És parvo, como és capaz?
- Então vê:
Aproximando-se do pai que estava sentado a dormitar, perguntou-lhe:
- Oh mê pai, Voxemexê amanhã vai à micha?
O velhote já um tanto atrapalhado na língua, respondeu:
- BOU!….BOU!... BOU!
-Estás a ver mano, que consegui fazer o nosso pai ladrar!
____________________________

O que um filho pensa do seu pai

Aos 7 anos:
O meu pai é um sábio, sabe de tudo.

Aos 14 anos:
Parece que o meu pai e engana em certas coisas que me diz.

Aos 20 anos:
O meu pai está um pouco atrasado em suas teorias; não sabe desta época.

Aos 25 anos:
O “Velho” não sabe de nada… Está caducando, decididamente…

Aos 35 anos:
Com a minha experiencia, o meu pai nesta idade seria um milionário.

Aos 45 anos:
Não sei se consulto o “Velho” neste assunto, talvez me pudesse aconselhar.

Aos 55 anos:
Que pena ter morrido o “Velho” a verdade é que tinha umas ideias e umas clarividências notáveis…

Aos 60 anos: Pobre pai… Era um sábio… Como lastimo tê-lo compreendido tão tarde!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Entesoiramento

Desceu a serra, um homem com uma máquina de sulfatar às costas, e dirigiu-se à vila que fica situada logo no sopé. Entrando na estação dos correios e, tirando a “mochila”, perguntou ao funcionário:
- Aqui trocam notas de escudos por euros?
E retirou algumas de dentro da máquina e mostrou-as.
O funcionário muito admirado com tal aparato, apenas lhe indicou um banco e aconselhou-o a depositar a elevada quantia de dinheiro, porque podia vir a ser assaltado.
- Não! Eu não quero depositar! Eu quero trocar estas notas por euros e guardá-las em casa!

Dirigiu-se ao banco, deixou os escudos e levou os euros dentro da máquina.
Este homem optou por fazer um entesoiramento.
Grande pacóvio! ... Ou não…

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O poder da Internet

Hoje vou postar mais cedo.
Então não é que cá em casa se pegou mais uma vez ao fundo?!
Foi o tacho do galo do campo, que o meu pai havia matado para o almoço.
E como se não bastasse, torraram-se também as pêras que estavam a ser cozidas num pequeno tacho, para dar ao pai.
E isto tudo porquê?
Porque a internet consegue fazer destas coisas. São as visitas, os comentários e as conversas.
Claro que devemos ter o nosso tempo de lazer! Mas não nos devemos esquecer de outros deveres mais importantes.
Pergunto:
-Há alguém a quem tenha acontecido coisa idêntica, ou só acontece na minha casa?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A cruz

Há anos encontrei uma imagem de Cristo em metal, abandonada, sem a Sua cruz, e após um ligeiro restauro, pensei em fazer uma de madeira para a colocar.
Fiquei impressionado quando lhe colocava os pregos nas mãos e nos pés, e ao mesmo tempo
senti uma ligeira dor cá dentro. Foi no momento em que meditava sobre aquele acto consumado há dois mil e poucos anos.
Pedi-Lhe que me perdoasse, e concluí o meu trabalho.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Cuidado com os dentes

Na realidade isto se passou, em noite de Lua Cheia, numa velha casa de aldeia.

O telefone tocou. É do 7323? Pediu para despertar às 3!
Obrigado menina, faria de ti uma rainha.
Num ápice me vesti, para o meu pai ajudar, que havia noites sem deitar.
Logo me pus a caminho para não chegar atrasado, nem levei o Mandavir que até ficou chateado.
Cheguei à hora certa, à casa pelo meu pai indicada, onde eu nem via luz, nem via jeito de nada.
Porque o tempo passava e o homem o comboio ia perder, resolvi à porta bater.
Abriu-a um desvairado, com uma linda donzela ao lado, logo me deu para olhar para ela, com um olho piscado. O homem muito irritado, que mais parecia um desfigurado, pegando numa forquilha, encostou-ma à braguilha.
O que é que quer daqui? Vá-se embora seu vadio senão furo-lhe a barriga.
No momento pensei fugir, mas… Não! Vou resistir.
Calma! Sou o João, filho do taxista a quem o senhor falou, por isso aqui estou para ao comboio o levar. Ou antes me quer matar, pensando que sou ladrão? Vamos embora depressa, se não quer perder o patrão.
Ai desculpe que adormeci, e de todo me esqueci que tinha que ir para a estação. Mas que raio de cabeça, a comportar-me como uma besta, desculpe senhor João. Ainda estou estremunhado, espere uns minutinhos que já fico arranjado!
Pelo caminho então contou que já o seu avô tinha a casa bem armada, porque estava isolada, e pensara, portanto, pôr armas em tudo quanto é canto.
Ao que um homem está sujeito, ficar com as partes com defeito, antes de a velho chegar.
Se tal acontecesse, não era coisa que se fizesse, como me iria gobernar?

Na realidade isto se passou, em noite de Lua Cheia, numa velha casa de aldeia...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Marmelada!!!

Como estamos a chegar à época das vindimas e como os marmelos são abundantes, podemos apanhá-los sem falar com o dono. Uma boa sugestão para fazer marmelada, para se consumir nos dias frios.
Não utilize os marmelos que estejam à beira das estradas de circulação automóvel.
Esfregue-os com água para lhes tirar qualquer sujidade. Corte-os em quatro partes, retire-lhes o caroço e mergulhe-os em água salgada para não oxidarem. (Podem congelar-se durante dois anos.)
Utilize quantidade igual de açúcar e, num tacho com um pouco de água coza bem os marmelos e acrescente-lhe o açúcar deixando cozer durante mais algum tempo. Faça o puré batendo com uma varinha. A marmelada chegou ao ponto, quando ao mexer com uma colher de pau, conseguir ver o fundo do tacho. Distribua em taças e deixe arrefecer. Coloque a tampa, se tiver, se não, pode ser mesmo papel vegetal, e guarde no frigorífico.
Se utilizar marmelos congelados, basta colocar a mesma quantidade de açúcar, sem ser preciso água e deixar cozer sem tampa. Depois seguir os mesmos passos.

(Marmelada de marmelo, pois então! Pensavam o quê? que era de goiaba???)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Ao vivo e a cores















Há tempos que esperava.
E quem espera sempre alcança!
Ver o que outros viram e descobriram.
Pela primeira vez céus rasguei,
na direcção do seio do mar,
onde naufraga o que pela paz anseia.
Rochas emergentes formam o oásis e vestem a paisagem
onde o preto e verde apazigua a minha mente.
De tudo esqueço,
apenas um ruído sereno,
o ar puro que galga as pedras junto ao mar que me vem visitar.
Detrás do carvão apagado que mantém o seu calor,
o extenso azul do céu e mar, até que a vista possa alcançar.
O Pico aureolado no seu altar
não me larga com o seu olhar, como santo imóvel.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Férias, vacances, holidays... mais tarde!!!

Está-me a saber bem!
Oh... Psssst!
Traga-me mais duas cervejas se faz favor, uma para mim e outra aqui para a esposa!
Não se esqueça que para mim é sem álcool! e de garrafa... De lata não quero por causa da Leptospirose, ou seja, contaminação por urina de rato......
ou de rata!...
E isto d'um homem beber pela palhinha, não está muito bem.

... O camarão está mesmo bom ! Não achas? Há tempo que não comia um camarão assim!
Humm... Muito jeitosa aquela! Abençoada mãe que a deu à luz. Deve ser sueca de certeza!
Na nossa santa terrinha, no meio daqueles carrascos, não aparecem destas aves pernaltas!
Ai isso não!
Olha... ainda um sorriso para mim. Obrigado. Achou-me bonito!
Sou eu e o dEus te guie.
Oh linda! Estás a ver que agora não posso!
Ai se eu pudesse!

- Ah seu dorminhoco
Acorda... Está na hora do trabalho!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Que as há… há! Eu é que não acredito!

Quem sabe onde fica a melhor bruxa? Basta perguntar a qualquer taxista e este aconselha logo a que fica mais longe.
E será que as bruxas conseguem saber o que vai em casa e na vida de cada um? Claro que sabem!
Quando uma pessoa pensa numa dessas idas, fala ao taxista fora do seu concelho para que na sua terra não o saibam, e põem-se a caminho.
Como a viagem é longa há tempo para conversar de tudo um pouco. Geralmente, e com a artimanha do taxista, começam por falar do porquinho da ida à bruxa. A senhora desbobina praticamente tudo e a determinada altura o condutor desculpa-se que vai com um pouco de sono e pára para tomar um café. Entra no estabelecimento, faz um telefonema para a bruxa, e conta-lhe tudo o que a senhora lhe disse: Tem problemas com o marido... a filha acabou o namoro... a burra adoeceu... Tem muitas ou poucas condições de pagar...
Claro que na consulta, a bruxa adivinha tudo o que se passa e também se a pessoa tem pouco ou muito dinheiro para pagar, basta a forma do aperto de mão do taxista à bruxa e as vezes que as mãos baixam e sobem ao cumprimentarem-se.
Pede então que dêem ao taxista umas peças interiores das pessoas em causa ou um pouco do excremento do animal doente, que numa próxima viagem este lhe entregará, para fazer o desterro. A cliente aqui paga serviços que podem nem ser feitos.
E quando o são, são normalmente de noite para locais ermos, junto a capelas ou junto ao mar em locais assustadores (que até parecem um inferno), mas aí a cliente vai junto.
Contaram-me que uma bruxa, de muita nomeada, foi chamada a determinada casa. Esta quando chegou foi recebida por um rapazito que lhe abriu a porta. O cumprimento que este teve foi um forte chapadão que o fez ficar com a cara a arder. Muito admirado ficou a olhar para ela. O inimigo entrou mesmo naquele lar!

Um bom taxista seria aquele que fosse capaz de mandar estas pessoas irem a pé mas a Fátima!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Uma boa acção… uma desilusão

Este caso aconteceu quando começavam a surgir os míscaros nos terrenos arenosos das matas junto à beira-mar.
De regresso a casa depois de umas centenas de quilómetros percorridos, meti-me pela Mata do Urso (matas nacionais) mais conhecido Pinhal de Leiria, porque o trajecto era mais curto. A certa altura alguém me manda parar. Um homem na casa dos seus setenta e tal anos, em estado de choque, a chorar porque tinha perdido a sua mulher.
Pensaram os dois sair de manhã cedo para apanhar míscaros e, ao chegarem à mata, cada um foi para seu lado em busca deles. Ainda não era bem tempo porque não havia mais ninguém por ali na sua apanha.
Muito aflito pediu-me que ajudasse a procurar a sua mulher, que tinha desaparecido há horas. Fiquei e procurei, mas sem êxito.
Como naquele local conseguia contactar com a Central através do CB, porque havia poucas interferências (QRM) e estava a uma distância de mais ou menos cinquenta quilómetros de casa, pude falar com a esposa que participou, por telefone, à GNR daquela área, o desaparecimento da mulherzinha.
Passado, talvez, uma hora chegaram ao local.
Puseram-se a procurar pelo meio daquela mata com o jipe, ligaram as sirenes para a mulher ouvir, chamavam através do megafone, mas nada. Regressavam, tentavam comunicar com o posto, com o rádio transmissor, para pedir reforços e para dar o ponto da situação, mas não tinham sinal de resposta. As ondas curtas não funcionavam naquele denso local. Tive que utilizar mais umas vezes o rádio CB, passando a Central as mensagens, através do telefone, para o posto e vice-versa.
Andámos naquilo desde a hora do almoço até quase ao pôr-do-sol.
Chegou um automobilista trazendo a notícia que tinha aparecido uma mulher desconhecida numa aldeia próxima. Os GNR’s pediram-me que fosse saber, e desloquei-me a toda a pressa à povoação. Verifiquei que tinha sido um falso alarme, um engano. Regressei desiludido, e o homem assim mais chorava pela esposa.
O fim do dia aproximava-se.
Quando estávamos para regressar, dadas as buscas por terminadas, surge um jovem casal com a senhora de automóvel, porque alguns minutos antes esta tinha conseguido encontrar uma das várias estradas de asfalto. Molhada, despenteada, assustada, aterrorizada, desfalecida, agarrou-se ao marido a chorar.
Próximo do Natal desse ano, o casal de idosos chegou a minha casa e presenteia-me com um cabrito vivo. As crianças fizeram uma festa ao verem o animal, brincavam com ele, mas este, porque era ainda um animal de leite, barregava pela mãe.
Como vai ser isto agora? O barulho era demasiado incomodativo e não tinha como calá-lo. Mandar matá-lo, não vou! Comê-lo, muito menos. Como o tirarei de casa, sendo este um amigo das crianças?
Peguei nele, dizendo que o iria devolver à mãe, porque estava cheio de fome e que queria mamar. Entreguei-o a um pastor vizinho que tinha um rebanho, pois saberia melhor criá-lo do que eu.

Uns anos depois circulava eu numa vila daquela zona dos míscaros e cometi uma pequena transgressão. Os GNR’s multaram-me.
Pedi-lhes que me desculpassem, que ignorassem a falta, que fechassem os olhos ao sucedido, que não escrevessem, contei-lhes muito resumidamente o acontecimento na Mata do Urso, o serviço que lhes disponibilizei poucos anos antes, mas a resposta foi esta:
- Você não fez mais que a sua obrigação!

Mais tarde, vim a pagar uma multa de vinte e cinco euros.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A faca de ponta - texto integral

(Para quem ainda não leu o texto integral, resolvi recolocá-lo.)

Dias antes levara uma surra do pai, porque tinha deixado assaltar a taberna.
Naquele dia, António ausentara-se do local de trabalho para ir ver uma rede que montara nessa manhã na Vala do Sequeiro, junto à linha do comboio, na expectativa de apanhar alguma enguia ou papa-cavalo. Uma das suas freguesas do mata-bicho, que estava a banhos, aproveitou a sua ausência, e, tendo espreitado onde ele tinha guardado a chave da taberna, foi-lhe à gaveta do dinheiro.
Pelas festas dos Santos Populares e durante toda a época balnear, o ti Joaquim mantinha em funcionamento uma das suas tabernas sazonais nas termas, aquela que lhe dava mais lucro.
O António, o seu filho mais novo fora o escolhido para a sua exploração, encargo que gostava muito de ter porque passava grande parte do tempo a ouvir no rádio aquilo que mais gostava – as canções daquele tempo. Ouvia e cantava em simultâneo as cantigas. Depois passava toda a letra para folhas de papel pardo.
Devido à sua voz bem timbrada, até aspirou um dia a ser cantor profissional. Tony chegou mesmo a ser vocalista do Sol Dourado e foi a uma audição à Emissora Nacional.
Agora, tinha-se esquecido de um papel em cima da mesa da cozinha da residência familiar. A ti Maria, curiosa, pegou no papel, abriu-o e leu:

“Eu hei-de morrer de um tiro,
Ou duma faca de ponta.
Morro hoje ou amanhã,
Com isso já faço conta”…

Ai!...
Ia desmaiando após lidas aquelas palavras.
Com as forças quebradas, aflita, correu a chamar pelo homem que, nesse dia andava a cultivar o serrado atrás da casa. E entregando-lhe o papel exclamou:
- Olha o que tu fizeste ao nosso Tóino! Vai lá depressa ver o que é que se passa com ele! A esta hora atirou-se para debaixo do comboio ou para dentro de alguma vala!
O ti Joaquim pegou na sua bicicleta e foi a toda a pressa até à taberna.
O Tóino dormia a sesta bem descansado na sua improvisada cama de bunho seco, porque nessa tarde não havia muito que fazer.
Afinal, era apenas o refrão duma cantiga!

Os tempos mudaram, mas hoje a cantiga é a mesma.

Estamos tramados!
Temos a faca encostada à barriga…
Eu, pelo menos, tenho-a sempre apontada a mim, vinda de várias direcções.
Estou sujeito a assaltos, mas o maior assalto vem daqueles que me deviam proteger! E então digo:

Eu hei-de morrer um dia
Porque imortal não sou
Portanto ficai sabendo
Ao lerem o meu testamento
Que foi o governo que me matou!

___________________
Adenda: Prémio!

Award, created by the Uruguayan
Obrigado ao Daniel do blog Com Imagens
que o atribuiu ao Cabo das Tormentas.

Aproveito para oferecer aos meus comentadores habituais, este "anjinho da guarda"dos blogues.
Aqui ficam as regras (que quebrei):
1. Quem receber o prémio, tem de escolher cinco blogues que considere criativos, interessantes e que contribuam para uma melhor blogosfera e que goste, claro !
2. Deve incluir no post, o nome dos cinco bloggers, nome dos respectivos blogues e respectivos links dos blogues nomeados.
3. Quem o recebe deve mostrar o prémio bem como o nome do autor e link de quem lho deu.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A ti Maria no hospital


Ao terceiro dia assentiu finalmente em ir ao médico porque a dor teimava em continuar.
Com a falta do médico de família e o Centro de Saúde a funcionar a meio tempo, a única solução foi recorrer ao Hospital Distrital.
Quando chegou ficou pasmada com tanta gente.
Enquanto esperava na sala, entrou uma senhora que, para admiração de todos, dizia: “Ai que eu morro! Estou muito mal! Acudam-me!? ninguém me acode?”
Era a sua doença psíquica, segundo disse alguém que a conhecia, que fazia com que não estivesse calada.
– “Oh senhor acuda-me”, dirigiu-se ela a um paciente – “eu tenho o sangue infectado!”
– Mas…eu não sou médico, como posso eu acudir-lhe?
Outros respondiam com graçolas de vária ordem: “Espere pela sua vez que ainda agora chegou! Vá mas é trabalhar que ainda é nova, que lhe fazia bem!”
Porém alguém disse, que esta mulher com quatro filhos, quando era nova foi maltratada pelo marido. E terá o seu quê de verdade, porque entretanto ele chega e ordena-lhe com maus modos que se sentasse e ficasse calada enquanto ele ia almoçar. Não demorou mais umas chalaças
– “Vá comer, vá, porque senão quem morre é você.”
Eu achava aquilo ridículo. A ti Maria, sentadinha no seu lugar, porque estava um pouco distante e com a sua falta de ouvido não se apercebeu do que estava a acontecer.
Passados alguns minutos, chamam por Maria Augusta para a triagem.
A mulher, que andava de um lado para o outro entrou imediatamente.
Pensei: “Há qualquer coisa de errado! Serão duas pessoas com o mesmo nome?!”
Entrei com a ti Maria, que devido à sua idade não podia entrar sozinha, e perguntei por quem tinham chamado. Fora naturalmente pela ti Maria, visto ter chegado primeiro.
A sra. enfermeira ordenou então à outra que se levantasse e que aguardasse mais um pouco. Aqui a coisa começa a ficar complicada, pois ela não queria levantar-se, alegando que estava muito mal, a morrer. A ti Maria como agora estava lado a lado com a outra (im)paciente, ouviu-a e disse-lhe:
– “Se está mal vá ao médico!”
– “Ai mas eu estou cheia de comichão!”
– “Se tem comichão vá tomar banho ao mar que isso passa!”
– “Até na sola dos pés!”
– “E …naquele sítio que eu cá sei também lhe morde?”
Fiquei estupefacto com aqueles comentários diante da senhora enfermeira.
Então, a outra lá acabou por ceder a cadeira. Após a triagem, foi dada à ti Maria uma pulseira verde, voltando esta novamente para a sala de espera até ser chamada para a consulta.
Uma simpática médica brasileira chamou-a mais cedo, pela sua idade avançada e porque viu que não era “cliente habitual” do hospital.
Esteve impaciente durante oito horas, tempo que durou a fazer vários exames médicos e tratamentos, até que lhe deram alta.
A senhora da comichão entretanto saíra mais cedo, medicada, voltando assim a sala de espera à normalidade.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Maldita cafeína

O que é isto que me impede de adormecer
Horas e horas a fio acordado?
A noite já vai longa e eu aqui neste estado

Bem pensado agora já sei
O descafeinado que pedira viera trocado
Maldita cafeína que pões o poeta de lado

Se ser poeta é cruzar palavras noite dentro
Imaginar estrelas em quarto escuro
É acordar com deleitamento a mulher amada

E ao romper da aurora cansado
Ser pedra por momentos
Por todo este trabalho deitado

Minutos que parecem horas
Levito por toda noite delirar
Culpa da troca do descafeinado…

Virei a ser poeta por tanto magicar?

terça-feira, 17 de junho de 2008

A Casa de Campo




Há muito que tinha pensado na casa de campo dos meus sonhos, e pouco a pouco, nas horas vagas fui construindo os painéis sob a alçada do velho mestre carpinteiro.
Deslocando-me aos fins-de-semana, e escolhido o sítio ideal, comecei a edificar os pré -fabricados sobre uma das pontes de madeira, que unem as duas quartelhas, pertencentes ao meu pai.

Chegado o tão desejado dia da inauguração, partimos logo de manhã para o local, para passarmos um dia diferente. No local, depois de alguns instantes, a pedido da mulher, tive que voltar a casa porque se tinha esquecido do ferro de engomar ligado. Passado meia hora estava de regresso à casa de campo, e deparei-me com algo insólito.
Não entendia tão grande algazarra.

O Paidá, a quem deixara a cana de pesca, na tentativa de apanhar uma carpa para o almoço, fazia um enorme esforço para içar o que quer que fosse que estava preso ao anzol. Alguns peixes, antes da chegada dos químicos aos arrozais, podiam chegar a pesar até três quilos, o que significa que bastava um desses para servir uma grande refeição para nós os cinco.

A mãe segurava-o pela camisa, não fosse ele tomar um banho àquelas horas, puxado por uma grande carpa.

O Pipia, no telhado estendia a sua roupa molhada, pois tinha caído numa vala enquanto tentava apanhar uma réla. A confusão era tanta que a sua irmã não ouvia os seus gritos, indicando que algo estava a queimar na pequena cozinha. A Papoila, distraída, acabava de deixar torrar os crepes que eram para a sobremesa.
O Paidá continuava a puxar a arqueada cana muito lentamente, e eis que para espanto de todos, aparece, preso ao anzol, uma grande bota velha.

Mas que grande decepção! Lá se fora o tão desejado almoço! Peixe fresco frito com arroz de tomate e uns crepes. Até o Joyce se encontrava nervoso porque estava na hora do almoço e não podia ver a sua amiga Cabriolait a devorar o seu pequeno fardo de palha que a Joana não esquecera de levar.
Desanimados, regressámos a casa após esta aventura inesquecível

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Aldeia (des)encantada


(Miniatura do ti Joaquim)

Na aldeia, que mais parecia estar assombrada, algo de anormal acontecia.
Depois do casamento, as noivas adoeciam gravemente com doença desconhecida.
O médico era chamado, sempre à última da hora, quando já não havia nada a fazer.

Aconteceu que um dia um jovem recém-casado teve que o chamar porque a sua noiva fora acometida da misteriosa doença. O médico depois de a examinar disse ao marido que não havia nada a fazer, que se preparasse para passar a viúvo e que não duraria mais que quarenta e oito horas. Disse-lhe ainda que passado esse tempo fosse ao seu consultório para que lhe passasse a certidão. O jovem não se conformou, e pensou para consigo “ora eu há pouco tempo casado com uma bela mulher, é um desperdício ela partir sem que eu… nah, tem que haver uma solução!”
Deitou-se junto dela, imóvel, preocupado com os seus gemidos e lamentos.

Toda aquela santa noite, apesar da noiva doente, e porque eles se gostavam muito, foi de grande ternura, muito amor, muita paixão… Ela espreguiçando-se a meio da madrugada mandou o marido ir buscar um chá (chá de marcela, muito amargo, que mais parecia veneno) e bebeu-o em poucos goles, com muito gosto, e cheia de vontade de viver……

O médico estranhou a demora do jovem a chamá-lo e deixou que passasse mais algum tempo. Como não aparecia pôs-se ele a caminho da casa do casalinho. Pelo caminho ia perguntando se tinha morrido alguém por ali na aldeia. Respondiam-lhe que não. Bateu à porta e apareceu-lhe o rapaz todo risonho e diz-lhe, sem que o médico lhe perguntasse, que a sua noiva estava muito melhor.
- Chamaram outro médico? - Perguntou.

- Não! - Muito envergonhado o rapaz confessou-lhe o que tinha feito naquela noite.
Por fim o médico exclamou:
- Sim senhor! Quantas eu tenho deixado morrer! Se antes soubesse, teria receitado essa medicina.

Depois de ouvida esta história do ti Joaquim, pode-se chegar à seguinte conclusão, entre outras:
Naqueles tempos segundo as narrativas deste mestre, os noivos nem sequer dormiam um com o outro na noite de núpcias (as mães não deixavam), ou se o faziam, não pensavam em mais nada do que fazer projectos para o dia seguinte, e para o futuro. Da lua-de-mel não sabiam o que era ou simplesmente não existia nas aldeias. Passavam toda a noite a falar como iriam arranjar dinheiro para comprar uma junta de vacas, como conseguir uma grande adega de vinho, marcar os dias para cultivarem as terras, enfim a festa no lugar de continuar, terminava ali naquela noite.

Portanto é de salientar que, as noivas sendo mais sensíveis e mais vulneráveis que os noivos, adoeciam. Faltava-lhes, logo no início, o amor, elemento principal para a vida a dois.
Mas o ti Joaquim não foi nas couves! Deixou o trabalho para segundo plano!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Banhos da Amieira



Situadas com vista esplêndida para os arrozais, atravessadas pela Linha do Oeste, estas termas foram as mais antigas da região, onde chegou a haver um posto de engarrafamento de águas que eram distribuídas para vários pontos do país.

Há poucos anos um violento incêndio que começara a quilómetros de distância, vindo em sua direcção, não poupou as suas velhas instalações e o seu lindo espaço verde. Não deixou vestígios da sua densa mata de seculares plátanos e mirtáceas, e uma grande variedade de arbustos.

A camada de húmus onde os patos bravos faziam os seus ninhos e que as pessoas extraíam para os seus vasos, desapareceu.

Foi um local propício para piqueniques, onde levei várias vezes a família, munido da manta e do farnel, porque sabia que os pequenos faziam uma festa quando viam passar o comboio, ou a auto-motora.

Hoje a água tépida continua a brotar das bicas das fonte, e algumas pessoas vão buscar alívio para as suas peles doentes, artrites ou outro tipo de doença. Nos dias de verão, em que a água escasseia nas torneiras, tractores e pequenas camionetas transportam tanques de água para consumo ou para as regas.

Também na época balnear, os banhistas após a permanência nas praias vizinhas não deixam de passar e tomar um banho de balde ou de regador para tirar o salgadiço, para assim manterem a sua pele sempre saudável.

Esperamos que os responsáveis façam deste espaço um local de lazer que todos gostaríamos de ver no futuro.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Almártega




Desde muito cedo, pensei fazer algo artístico para deixar aos meus descendentes, às gerações vindouras. Não é que me considere um homem das artes, mas pretendi medir, assim, as minhas capacidades técnicas ao nível da pintura e da escrita, e logo comecei a experiência quando achei o tempo propício para o fazer.

Nas várias e demoradas deslocações, escolhia um local recôndito, ou por vezes dentro do carro, e pegando no material de pintura, ia dando umas pinceladas e, pouco a pouco, fui fazendo uma pequena colecção.

A pintura que destaco, é para mim uma obra de grande valor estimativo, porque é a aldeia onde viveram os meus bisavós, em pleno século XIX. Almártega é o seu nome.

Situada no sopé da Serra do Sicó, metida no seio de denso arvoredo, atravessada por um ribeiro de água límpida, é um local deveras sossegado onde se pode admirar a fauna e a natureza no seu estado selvagem. Outrora uma povoação cheia de história e tradições, encontra-se hoje desabitada e em elevado estado de degradação, onde restam apenas alguns muros, e muitos silvados.

Passados que foram trinta anos, é difícil fazer uma pintura idêntica, porque a paisagem neste momento está muito diferente, o que me levou naquele tempo a pintá-la para a recordar e perpetuar, ao longo dos tempos.
(...)
Para executar esta pintura tive de me deslocar ao local durante vários dias, munido de um cavalete. Durante horas sem conta fui pintando este quadro, aproveitando ao mesmo tempo para passar parte das minhas férias nesse Verão.

A todos aqueles que respeitam o ambiente, é recomendável a visita a este local único, selvagem, onde poderá desfrutar e admirar a sua paisagem natural, a sua fauna, e respirar o ar mais puro na sua essência. Poderá ver a sua imagem reflectida nas águas cristalinas do riacho, e também, com um pouco de sorte, poderá ver um ou mais pampos, animais que estão em vias de extinção.

Dado o valor estimativo desta obra, tinha de a publicar para que todos a possam apreciar. Se quiserem chegar até Almártega, um dos, ainda, paraísos deste país... só a pé ou em charrete.

sábado, 10 de maio de 2008

Um estranho bicho

Quando a minha mãe ia à vila comprar alguma coisa para vender na loja, pedia-lhe que me levasse com ela porque eu não era tão guloso como a mana. Não era preciso pedir, a minha mãe bem sabia o que eu queria (um pão de deus ou uma boneca para comer).

E a alegria com que eu ficava quando o meu pai chegava do “longo curso”! Trazia sempre alguma coisa para oferecer aos dois filhos. Um dia fez-nos uma surpresa. Trouxe um bicho muito estranho que era mais ou menos da minha altura. Tinha uma cabeça, dois olhos, uma boca, uma data de pernas com buracos. Perguntei-lhe, disse-nos que era um polvo.
Prestei toda a atenção ao que o meu pai fazia. Amanhou-o e, depois de limpo, dependurou-o ao sol longe do alcance dos gatos ou dos cães, dizendo que depois de seco era muito bom para comer. À noite retirava-o, e de dia voltava a pô-lo no mesmo sítio.
O tempo passava e eu com o desejo de provar aquele petisco, que imaginava ser tão bom como a bexiga do porco no fumeiro. Estava sempre à espera que o meu pai desse o primeiro corte com a faca no polvo, para assim eu poder comê-lo.
Estava quase seco quando um cão vadio, passando por ali captou o cheiro do polvo e sem que ninguém desse conta, conseguiu roubá-lo e arrastando-o pela rua deserta, à vista dos transeuntes, que também acharam estranho tal coisa, levando-o para o seu esconderijo para depois o comer.
Grande refeição teve aquele cão vadio!

Ainda hoje estou para conhecer o sabor do polvo seco ao sol. Nunca vi tal coisa à venda no mercado que pudesse comprar.
Alguém tem um bocadinho que me mande por correio? Eu gostava de lhe dar umas dentadas!

Mas hoje o polvo é de outra qualidade…

sábado, 3 de maio de 2008

Na Caserna

Farto de estudar, chegou a altura de cumprir o serviço militar.

Passados que foram alguns anos, após o 25 de Abril, fui chamado para a tropa.

Para que raio querem um jovem como eu na tropa?
- Não tenho nenhum jeito para a guerra, não sou a favor dela!
Contudo tive a sorte de ir para o quartel mais próximo.
Ao receber a farda, fiquei cá com um par de botas... que, por serem pequenas e porque não deu para trocá-las com ninguém, tive que as usar e estragá-las quanto mais rápido melhor, para me darem outras. Em marcha fazia por oscilar um pouco, pensando que me mandavam para casa, mas não pegou, pois lembro-me que no pelotão havia um coxo que ganhava sempre as corridas. O raio das botas deformara-me um dos dedos do pé direito.

O meu pai comprou-me uma Tryal de Cross na qual regressava só aos fins-de-semana a casa. Passado algum tempo, e porque já tinha carta de condução, podia levar o Morris Marina, preto, a gasóleo. Sempre que chegava à porta d’armas, tinha que sair do carro para o sentinela ver que era eu mesmo, pois este insistia em fazer umas manobras de continência com a arma, que eu não merecia. Pensava ele que eu era uma alta patente militar!
Feita a recruta, chegou o dia do juramento de bandeira.
Envaideci quando na formatura em parada, ouvi chamar pelo meu nome para receber das mãos do senhor comandante o prémio de melhor atirador da companhia de comando.
Não sei como consegui tal mérito de melhor soldado de tiro ao alvo, nem porque é que a partir daqui não virei caçador ou atirador desportivo. A visão é simples:
Sou contra as armas, contra a guerra e contra todo o tipo de violência.

Mesmo não gostando de whisky, para o dia do meu aniversário, pedi a um amigo que me trouxesse de minha casa uma garrafa, para eu oferecer um gole aos camaradas. Este entregou-a ao cabo-dia e quando a recebi apenas restava um pouco no fundo, porque a garrafa de Dymple fora parar às mãos de um soldado que tinha o mesmo apelido.

Tropa! Não tenho saudades desse tempo, se bem que fiquei mais bem preparado fisicamente, mas não me correu lá muito bem: As refeições indigestas, aquele mal-estar, as noites mal dormidas, o alvoroço na caserna, as noites passadas no casino, onde investíamos o pré recebido.
Não foi das melhores alturas da minha vida!

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A visita da ASAE

Chefe à Cozinheira:

-Cozinheira! Dado que amanhã somos visitados pela ASAE, determino que a nossa equipa esteja formada, com farda de trabalho, no parque de estacionamento, onde darei explicações em torno do raro acontecimento que não acontece todos os dias. Se por acaso chover, nada se poderá realizar e, neste caso, a equipa fica dentro do salão de chá.

Cozinheira à Ajudante de Cozinha:

- Ajudante de Cozinha, de ordem do nosso Chefe, amanhã haverá uma visita da ASAE, em farda de trabalho. Toda a equipa terá que estar formada no parque de estacionamento, onde o nosso chefe dará as explicações necessárias, o que não acontece todos os dias. Se chover, o acontecimento será mesmo dentro do salão de chá!

Ajudante de Cozinha ao Empregado de Mesa:

-Servente de Mesa, o nosso chefe fará amanhã uma visita da ASAE, no parque de estacionamento. Se chover o que não acontece todos os dias, nada se poderá realizar. Em farda de trabalho, o chefe dará a explicação necessária dentro do salão de chá.

Empregado de Mesa aos Clientes:

Estimados clientes, amanhã para receber a ASAE que dará a explicação necessária ao nosso chefe, o acontecimento será em farda de trabalho. Isto, se chover dentro do salão de chá, o que não acontece todos os dias.”

sábado, 26 de abril de 2008

Acontecimento marcante


Brincávamos na hora do recreio, numa segunda-feira de manhã. Era dia de mercado.
A sirene dos bombeiros, no cimo da torre da igreja, fazia um barulho ensurdecedor porque ficava a uma escassa centena de metros do Externato. Os mais entendidos logo disseram:
- É acidente dentro da vila!
Os alunos mais velhos, porque tinham autorização dos pais, saíram a correr movidos pela curiosidade, em direcção ao centro da vila.
Passado algum tempo, já no final do recreio, o meu espanto quando vi dois homens passar na estrada contígua ao recreio munidos de uma padiola, na qual transportavam algo coberto com um pano de cor escura, talvez um cobertor. Pelo braço dependurado que baloiçava ao compasso dos dois, pude ver que era o corpo de um homem. Iam em direcção ao campo-santo que ficava a curta distância da escola.
Os colegas trouxeram a notícia.
Foi um homem e uma mulher de Santo-Egídio que morreram esmagados pelos taipais de uma camioneta da pedra, na rua estreita.
A passagem das camionetas era constante. Vindas da serra, carregadas de pedra para a estação da CP, onde enchiam vagons para os reparos e construção da linha.

Maldita rua que teimava em ceifar vidas!
Rua estreita feita em calçada de granito com inclinação, única via de passagem na altura para todo o tipo de veículos.
Um condutor subindo com a camioneta carregada, para não perder a velocidade, não avisou os dois transeuntes que se haviam refugiado cada qual na sua ombreira das portas fechadas de um edifício.
Hoje ainda são visíveis as ranhuras nas paredes, causadas pelo roçar dos taipais das camionetas de carga.

Vim a saber mais tarde que os dois eram os meus avós paternos.
O meu avô... partiu, e a minha avó, politraumatizada, foi transportada aos HUC, onde permaneceu vários meses internada em risco de vida.
Depois deste mortal acidente não houve qualquer responsabilidade da parte do camionista, ou da empresa para quem trabalhava.
O tribunal foi mais a favor da empresa, porque as suas testemunhas representaram melhor papel. Estávamos no tempo em que alguns tinham o poder de “comprar” quem quer que fosse - Tribunais, GNRs ou testemunhas oculares.

Os infelizes sofredores herdeiros, tiveram que vender património para pagar os custos com o funeral e o internamento hospitalar.

Lá se foi a choupana na serra!

domingo, 20 de abril de 2008

Faça-se ouvir! ... Reclame!

Senhor Francisco.

Há dois dias atrás fui à sua loja e fiquei de boca aberta por ver que os seus empregados não quiseram devolver-me o dinheiro que eu paguei pelo rádio que agora avariou. Custa-me a crer como pode governar assim o seu negócio com tanta incompetência. Já ontem para aí telefonei por duas vezes e por duas vezes me deixaram à espera ao telefone. Estou farta. Ainda só vai em dois anos e o rádio agora deixou de trabalhar. Não sei se foi por causa dele andar sempre a mandar bolas e a tirar bolas a mandar bolas e a tirar bolas como o rádio do Esquim Adão que também nunca prestou para nada. Ainda que não seja capaz de encontrar nem a caixa onde ele veio e a factura e a garantia que lá deve estar juntas lembra-me muito bem de o ter comprado aí. Se o senhor é mesmo dono dessa loja quero que me telefone depressa para que este caso fique resolvido uma vez por todas. Quero de volta todo o meu dinheiro que dei pelo rádio no prazo de duas semanas – pode ser que vá aí amanhã à vila e deixar-lhe o rádio mas se não puder ser mande alguém aqui vir buscá-lo.
Sem mais nada para dizer
a muito descontente senhora Maria.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A caldeirada das batatas

Depois de tantos anos à luz do pitromax e do candeeiro a petróleo e outros, chegou a tão esperada luz eléctrica.
O ti Joaquim pensou logo em comprar uma televisão, para que os seus clientes pudessem ver alguns programas e alguns filmes e, daí, vir a vender mais os seus produtos.
A rapaziada passou a frequentar mais vezes a casa e, por vezes até se esqueciam das horas, ficando até tarde na jogatana. E às vezes não satisfeitos, os mais novos, quando o ti Joaquim dizia que eram horas de fechar, levavam uma grade de cerveja para a rua e iam jogar a bola para a estrada, até altas horas do noite. O vizinho mais próximo é que não estava pelos ajustes, pois sempre que de noite queria dormir, era inquietado pelo barulho que estes faziam, e pensou apresentar queixa.
Numa noite a guarda republicana bateu-lhe à porta, que estava fechada, pois já passava da hora de encerramento do estabelecimento. Num ápice tiraram todas as bebidas que estavam na mesa, cerveja, copos, e só depois é que foi aberta a porta.
Como tinha sido um acuso, o ti Joaquim teria que ira tribunal. Mas teve algum tempo para pensá-la.
Em tribunal todos iriam dizer a mesma coisa. Que andaram todos a arrancar batatas nesse dia para o ti Joaquim e que este à noite lhes ofereceu uma caldeirada de batatas como compensação, estando todos ali a cear até tarde por conta da casa.
Presentes a tribunal, todos responderam da mesma forma, e o doutor juiz dirigindo-se ao mais velho de entre eles, coxo e um pouco surdo, perguntou: “Então as batatas eram boas?”. “Sim, Sr. Doutor Juiz! Mas o bacalhau era muito melhor! Era cá cada posta!”.
“Pergunto se as batatas que arrancaram eram boas!”. “Sim eram boas, era cá cada uma que até pareciam duas”. E assim se safaram da transgressão. Foram mandados embora, sendo o ti Joaquim absolvido.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A sensibilidade ao estado do tempo

De uma forma ou de outra somos influenciados pelo tempo
Muitas das nossas indisposições, como por exemplo dores de cabeça cansaço nervosismo, perturbações circulatórias, são frequentemente atribuídas ao tempo.
Quanto mais agrestes forem as condições atmosféricas, tanto mais atenção lhes é dedicado: As tempestades, quedada de granizo, as secas prolongadas, as vagas de calor excessivo ou frio intenso.
Diz-se que certas pessoas começam por se queixar de pontadas e outras sensações dolorosas, um ou mais dias antes da chegada do mau tempo, vindo a tornar-se realidade em alguns casos. É hábito comentarem entre si:-“dói-me o joelho direito…Amanhã chove,” Vamos ter tempo frio, já me está a doer um dente”, Tenho uma pontada nas costas, vem lá a trovoada”.
A ciência através da biometereologia, tem-se debruçado sobre este tema, mas até agora não encontrou uma explicação satisfatória para a influência biológica do estado do tempo, porque cada indivíduo tem seu próprio padrão de reacções que se modifica em muitos casos ao longo do tempo de vida. Também os factores profissionais e familiares podem prejudicar mais a nossa saúde do que o tempo.
As pessoas mais saudáveis com a chegada das massas de ar frio, sentem um efeito revigorante e estimulante.
O aumento do número de indivíduos sensíveis ao estado do tempo, em todos os grupos etários tem necessariamente as suas causas. O nosso modo de vida pouco saudável é o grande responsável por este facto, nomeadamente o nosso comodismo e a falta de exercício físico.
Um organismo que não se exponha regularmente aos estímulos naturais do calor e do frio, não se adaptarão tão bem às influências climáticas, enquanto que quem trabalha diariamente ao ar livre preserva a sua resistência natural e apenas reagirá às variações extremas do tempo.
A má qualidade do ar, cujo indivíduo isolado pouco ou nada pode fazer para o minorar, contribui para as nossas indisposições porque somos obrigados a respirá-lo, contenha ele poços ou muitos elementos nocivos.
Até hoje ainda não se esclareceu completamente quais as forças meteorológicas que influenciam de facto a nossa saúde. Existe uma relação confirmada, por exemplo, entre a poluição atmosférica e as doenças das vias respiratórias e entre o calor sufocante e as perturbações circulatórias.
Os conhecimentos adquiridos sobre a sensibilidade ao estado do tempo têm um denominador comum. Em última análise as causas mergulham na civilização moderna. O processo caso não seja orientado por caminhos racionais e criteriosamente pensados torna-se um grande fardo para a nossa saúde.

Cabe-nos agora fazer algo para nos precavermos dos seus efeitos perniciosos

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A argumentação do médico

Exmo. Sr. Dr. Juiz, caro auditório,
é com muito agrado que estou aqui.
Obrigado pela oportunidade que me deram, para defender a minha posição de vir a ser incluído no grupo dos eleitos para a nova geração que se aproxima.

Em primeiro lugar quero dizer a este tribunal, e que fique bem claro, que não sou homossexual. Sou um cidadão de conduta normal e, por isso, peço que não dêem ouvidos a pessoas de má fé que ousam difamar a minha pessoa.

Sendo assim, e relativamente ao assunto que aqui está posto em questão, começo por dizer que, uma das principais figuras que irá ocupar o bunker, será certamente a minha. Não vejo ninguém na lista, que esteja acima das minhas capacidades como cidadão e como profissional.
Como tal, lutarei para recolher ao abrigo, livrando-me de apanhar com tamanho calhau na cabeça.

Excelência!

Estando o bunker repleto de bens de primeira necessidade, estarão também incluídos, certamente, equipamento médico e medicamentos para combater todos os tipos de maleitas!
E quem melhor do que eu para diagnosticar e atacar as actuais ou as novas doenças que venham a surgir?
Porque como sabemos as doenças sempre existirão!
Quem melhor de entre os eleitos para receitar e, assim, as curar? A função do médico na sociedade é curar e olhar pela saúde das pessoas!
E digo mais:
Na barca de Noé, no tempo do dilúvio, também seguiu um médico de certeza!
Não foi Reverendíssimo padre?

São vinte e cinco anos de carreira Sr. Dr. Juiz!... A Nova Terra precisa de gente como eu para não recuarmos ao homem das cavernas! Também contribuirei para dar bons frutos, predispondo-me a "juntar os trapinhos" com uma das mulheres que venha a ganhar um lugar no bunker, a fim de dar continuidade a esta bela criatura, denominada ser humano.
Farei um grande trabalho para bem da humanidade, como progenitor e como parteiro...

Agora desviando-me um pouco, e porque o cientista se me dirigiu numa atitude provocatória, se me permite, gostaria de dizer que ele é um elemento desnecessário.

Porque certos cientistas usam de uma certa loucura nos seus trabalhos laboratoriais, e penso que este não deixaria de levar consigo, uma série de embriões humanos os quais, manipulando-os, transformaria em seres muito esquisitos … O homem passaria a ter uma fisionomia muito diferente da actual …

Por isso pedia ao júri que ponderasse bem na sua decisão.

Muito obrigado a todos pela atenção que se dignaram dispensar-me.


Após a reunião, o Júri decidiu-se por:
A prostituta, o electricista, o agricultor e a bancária.

«Este trabalho de foi feito com o objectivo de “Quebrar o gelo”, incentivar à comunicação em público, avaliar o poder argumentativo, evidenciar competências do adulto e demonstrar capacidade de reflexão».

sábado, 5 de abril de 2008

Actividade Lúdica

«Ontem, no Jornal da Noite, uma noticia assombrou a humanidade:


Um meteoro com 10 km de diâmetro aproxima-se a passos largos da Terra. Os cientistas prevêem a sua chegada dentro de uma semana. Devido a esta calamidade, os governos das maiores potências mundiais decidiram sortear um número restrito de pessoas para dar continuidade à espécie humana.

O impacto será superior a força explosiva de 100 bombas atómicas. Nenhuma espécie animal ou vegetal poderá sobreviver à superfície terrestre. Nos próximos 10 anos, o nosso planeta revelar-se-á num primeiro instante, um verdadeiro deserto. Perante tal cenário, a única solução será usar o abrigo nuclear subterrâneo que fora construído nos E. U. A.. Este abrigo contem os bens essenciais para a sobrevivência de um número limitado de pessoas durante 10 anos. Compete ás potências mundiais seleccionarem 4 pessoas para serem integradas no abrigo a fim de dar continuidade à espécie humana.

Assim, os indivíduos serão levados a um júri, argumentando em sua defesa e justificando as razões pelas quais será importante a sua entrada no abrigo.

Os indivíduos terão as seguintes características:

1) Professora, 33 anos, fez voto de castidade;
2) Padre, 40 anos, sofre de gula;
3) Cientista, 69 anos, esquizofrénico;
4) Prostituta, 27 anos, com tendências depressivas;
5) Médico, 45 anos, homossexual;
6) Cozinheira, 51 anos, alcoólica;
7) Agricultor, 30 anos, acusado de pedofilia;
8) Electricista, 23 anos, toxicodependente;
9) Professor aposentado, 70 anos, filatelista;
10) Bancária, 29 anos, consumidora compulsiva.»

Para o desenvolvimento desta actividade, estas dez pessoas terão de apresentar a sua argumentação a um Júri composto de 5 Advogados e 1 Juiz, os quais escolherão as 4 de entre elas a ter direito a recolher ao abrigo.

Bem!
Sempre é melhor uma batalha destas, do que uma guerra em torno de um telemóvel!
Por sorteio terei que vestir a pele do! …da! ... Postarei depois a minha argumentação.

Até lá!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

"Mandavir" - o cão-máquina

Fazia tudo o que eu lhe mandava.

Gostava de se sentar à lareira, quedo, a olhar para o crepitar da lenha que ardia nos dias frios de Inverno, gostava de caçar, usar óculos de sol e andar de motoreta. Cumprimentava sempre qualquer pessoa com um passou-bem, quando esta lhe dava atenção. Enfim, tive tempo suficiente para o treinar e domesticar como deve ser.

Quando o meu pai se deslocava de noite em serviço, estava sempre à espera que este lhe fizesse um sinal para entrar no carro. Por vezes, porque não podia levá-lo, este instintivamente sabendo para onde ele ia, corria sem grandes pressas, e esperava o dono no seu regresso a dezenas de quilómetros de casa. Aconteceu algumas vezes ele esperar num cruzamento de estradas, sentado à espera. Abria-lhe a porta, e logo se punha com as patas dianteiras no tablier, muito atento para ver algum coelho que surgisse num ápice.

Há anos atrás havia muita caça, coelhos eram a dar com um pau, e sempre que aparecia algum diante do carro, bastava abrir-lhe a porta, e ele agarrava-o. Não era necessário gastar cartuchos, ou fazer qualquer estrondo em plena noite.

Assim que o dono chegava de um serviço, o Mandavir gostava de dormir boas sonecas debaixo do carro, porque o calor do motor criava um ambiente muito acolhedor para ele passar algum tempo.
Uma vez, porém, estando ele demasiado ferrado no sono, tardou em sair debaixo do carro quando já estava em movimento e uma roda passou-lhe por cima de uma perna.
Saiu a ganir, ao mancão, para a adega onde se deitou num saco de linhagem. Fiquei comovido ao vê-lo a olhar para mim com as lágrimas saindo-lhe dos olhos e a caírem para o saco.
Nunca tinha visto…
Pensava que lágrimas eram apenas para os humanos.
Não deixava de olhar para mim com aquela cara triste e sofredora.
Como vi que a perna estava partida, coloquei-lhe três talas envoltas em ligaduras, e assim se manteve durante algum tempo.

Começou a andar lentamente até ficar totalmente recuperado.
Mesmo com a perna um pouco torcida (porque o veterinário não era especializado), continuou a sua tarefa de bom caçador, até ao dia em que foi mesmo embora…
Dormia uma sesta no asfalto quente de um dia frio de Inverno, quando um condutor que circulava pela estrada, pensando que o animal estava morto. Desviou-se no momento em que ele se mexeu e…
Ficou pálido... porque o conhecia.
Mas não havia nada a fazer!

terça-feira, 25 de março de 2008

"Vidas do mundo..."

O Ti Joaquim gostava do Centro de Dia. Tanto, que passado algum tempo fez com que a mulher o passasse a acompanhar, mas contrariada!
Bem… passou a acompanhá-lo, porque sabia que os frequentadores do Centro de Dia, iam regularmente à praia, e a praia para a ti Maria, era o melhor que lhe podiam oferecer.
“Malditas horas que nunca mais passam.” Irrequieta, ora se sentava ora se levantava, soprava e, outras vezes, para controlar a sua insatisfação, cantava tudo o que lhe vinha à cabeça: Ave-Maria de Fátima, as canções do seu tempo, tudo! Os outros idosos começaram a chatear-se com aquele comportamento, porque queriam fazer o repouso do almoço, recostados nos sofás.
Aquilo não era vida para ela. Quando não a levavam à praia, apanhava transporte depois do almoço e ia para casa. Outras vezes ia a pé... Perguntavam-lhe “Ó ti Maria, então já vai para casa e deixou lá o seu homem sozinho?”
“O que é que eu lá estava a fazer! Renda não faço! Bem basta o tempo que gastei quando era pequena a coser sapatos para o meu paizinho, que era sapateiro. Olha aqui para estes dedos todos tortos! Foi o jeito da agulha e da linha. Como eu ainda era muito tenra ficaram assim. Ainda se tivesse lá um bocado de terra para cavar! Não tenho paciência para estar lá sentada sem fazer nada. Fico danada só de ver que estão lá mulheres muito mais novas do que eu, e que podiam tão bem trabalhar, mas não lhes apetece… Atão!... Vidas do Mundo, Senhor… vidas do mundo!”

quinta-feira, 20 de março de 2008

O Dia de Páscoa

Na Sexta-feira Santa, faziam-se os preparativos para o dia de Páscoa.
Enquanto a minha mãe preparava a massa para os folares, eu e a mana íamos ao Outeiro da Senhora buscar abróteas e junco para espalhar pelas escadas até a porta de entrada, formando uma passadeira verde natural, por onde iriam passar o Sr. padre e o sacristão no Domingo de Páscoa, aquando da visita Pascal.
Ajudava sempre a minha mãe na confecção dos bolos, partindo os ovos e provando a massa do alguidar. Era colocado um ovo cozido em cada bolo entrelaçado com duas tiras de massa, e depois levados ao forno para cozer. Depois de tirados do forno, eu pincelava-os com azeite para ficarem mais brilhantes.
Chegado o domingo, íamos todos à missa.
Depois do almoço, sempre bem avantajado neste dia, com todo o tipo de guloseimas, vinha o compasso, avisado pela sineta. Era o momento mais difícil para mim. A opa vermelha, a cruz de metal prateado com os seus bicos, o ajoelhar na casa de fora em redor da mesa de centro, o beijar aquela cruz dada pelo padre, fria como gelo, eu mal sabia o significado de tudo aquilo… Em contrapartida, neste dia gostava de estrear roupas novas e uns sapatos. Depois de um ou dois minutos de conversa retiravam-se para correr outras casas. Lembro-me que o sacristão (pai da ti Maria) carregava com a carga das laranjas às costas, resmungando, porque nem todas as pessoas davam dinheiro.
Depois disso já podia ir a casa dos meus padrinhos buscar o folar. A minha mãe carregava-me com uma bolsa às costas com bolos, enfiada numa cana, e depois de algum tempo comendo e bebendo com os padrinhos, regressava a minha casa com outra sacada de bolos e alguns pacotes de amêndoas.

Folar da Páscoa
(Faça você mesmo)

Ingredientes:
1 Kg de farinha
250 g de manteiga ou margarina
35 g de fermento de padeiro
100 g de açúcar
3 ovos
5 dl de leite
Sal
1 colher de (café) de erva - doce
1 colher de (chá) de canela

Dissolva o fermento num pouco de leite morno e, com 200g de farinha, faça uma massa. Deixe-a levedar.
Entretanto, trabalhe a restante farinha com os ovos, o açúcar e o leite, até obter uma massa muito leve, bem enfolada, mas com bastante corpo. Adicione depois a margarina, sal, a erva-doce e a canela.
Trabalhe bem a massa e, por fim, junte-lhe o fermento que esteve a levedar. Amasse até a massa se desprender das mãos e do alguidar.
Cubra com um pano e deixe levedar durante 2 a 5 horas em local aquecido.
Decorrido esse tempo, divida a massa em bolas e achate-as. Sobre cada uma coloque 1 ou mais ovos com algumas tiras de massa.
Pincele com gema de ovo e coza em forno quente.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Incapacidades temporárias

Depois de se reformar, o ti Joaquim costumava ir até à fábrica do filho mais velho, a quem passara o ofício de marceneiro, para ainda fazer uns pequenos biscates e observar o modo de trabalho dos empregados. Tinha uma boa relação com eles. Estes gostavam de o arreliar e de lhe ouvir as histórias.
O Ti Joaquim dizia-lhes sempre: “Ó rapazes, vocês agora nem sabem o que é trabalhar. No meu tempo fazia-se tudo à mão, isso é que era obra de artista! Agora, vocês com essas máquinas todas!....”
Conta o ti Joaquim que, lá à fábrica, costumam recorrer pessoas a pedir trabalho.
Certa vez, na época alta, o filho do ti Joaquim aceitou o pedido de um homem, ainda novo. Expondo-lhe todas as condições de trabalho, disse-lhe que podia começar já no dia seguinte. “Começa às oito horas da manhã e termina às cinco da tarde.”
O novo empregado depois, agradecido e um tanto envergonhado, contou-lhe que tinha sido caçador e que lhe acontecera um acidente que lhe causara a perda dos testículos.
O patrão condoeu-se com o sucedido e disse-lhe então que, nesse caso, viesse só às nove que ainda vinha a tempo. Este, admirado, perguntou-lhe porquê, ao que o patrão respondeu “Pode vir só às nove, porque os meus empregados das oito às nove não fazem mais nada se não coçar os tomates”.

domingo, 16 de março de 2008

Uma grande mulher

Ainda há dias pediu a um filho que lhe comprasse adubo e uns quilos de batatas para semear, para se ir entretendo a cultivar no quintal.
Disse que lhe faria bem às dores de costas. Acredito, mas tem o homem que lhe dá bastante que fazer. Os seus noventa e quatro anos pesam-lhe e está a ficar muito dependente.
A partir dos noventa que deixou de conduzir o seu automóvel, foi uma desgraça, vê-se a piorar de dia para dia, o que o leva a tomar muitos medicamentos. Ela porém zanga-se sempre que está na hora da toma, e porque ele tem que tomar vários medicamentos ao dia, fica impaciente porque, para ela, os remédios deviam curar, “É para isso que se gasta o dinheiro. Oh meu Deus! É todo o dia encharcado em remédio para não valer de nada! Oh homem, se eu fosse a ti, não tomava mais nada! A gente sempre tem que morrer"!
Fala assim porque tem sido uma mulher rija, apenas toma um comprimido todas as manhãs para a tensão, quanto ao resto, as últimas análises que fez, já lá vão mais de meia dúzia de anos, estavam dentro dos parâmetros normais para a idade.
Só se lembra de ir ao hospital há anos com uma forte dor de cabeça e de ir ao médico por causa das vistas. O médico recomendou-lhe apenas para lavar os olhos com água fervida todas as noites antes de deitar, medicina esta que se mantém sem esquecimento todos os dias.
Não come bife ou febras porque os dentes já não ajudam, apenas come a carne branca que é mais tenra e fácil de mastigar. Gosta de cozinhar à sua maneira e de cozer a broa.
Já para o Ti Joaquim as refeições são à base de dieta.
E agora pergunto eu:
- Como se chega aos noventa e um anos assim com toda esta genica? E onde pára o colesterol?
Será pela agricultura biológica que utiliza, onde apenas emprega cinzas, estrumes e… a pinguita de vinho morangueiro proveniente duma única cepa que lhe dá para todo o ano? Será que é isso que contribuirá para a sua longevidade, mesmo sabendo nós agora que este é um vinho que contém agentes tóxicos?
Ah!... Ainda há dias foi à Caixa levantar a sua pensão e, não é que se chateou com o novo funcionário por este colocar a almofada do carimbo em cima do balcão!
"Vá, dê cá o dedo!" Ela admirada, falou sem meias medidas "Você não deve estar bum da cabeça! Para que é isso? Então eu todas as vezes que aqui venho não é preciso nada disso! E hoje é porquê? Dê-me cá mas é a caneta para eu assinar!"
O funcionário corou…

terça-feira, 11 de março de 2008

Marmelada...

Durante a vida de lojista do ti Joaquim, as pessoas ao redor aviavam-se na sua loja, comprando o necessário para o dia-a-dia - cloreto, fósforos, petróleo, colorau - e era ali que os homens se juntavam aos domingos para umas cartadas e beberem uns copos.
Perguntei-lhe se fora um comerciante recto, honesto, ao que me respondeu que sim.
De vez em quando lá cometia uma ou outra falta, mas sem gravidade, não devia, mas a tentação!...
"Nunca fui como o de lá de baixo, o Alberto" (um seu concorrente). "Quando alguém lhe comprava bacalhau, cortava-o na guilhotina, mas com a gaveta meio aberta, e fazia deslizar, sem que o freguês visse, uma das postas do meio para dentro da gaveta".
“Arranjava sempre para uma refeição... Isso nunca fiz!"
"Cheguei a fazer uma outra coisa, uma pequena maroteira":
Havia a ti Angelina, que quando vinha à loja, gostava sempre de estender o seu braço e, sem que eu visse, tirava um bocado de marmelada para depois em cima beber o seu copito da aguardente. Mas uma vez quilhei-a!
Arranjei um tabuleiro igual ao da marmelada e meti-lhe dentro massa consistente*. Ela vinha sempre à mesma hora. Quando cheguei ao balcão estava ela a lamber os beiços. Pediu o habitual, pagou e foi -se embora. Não se desmanchou, mas saiu com a garganta bem untada.
De regresso a casa ia sempre a fazer “art ffff arrrtefff arretefffe".
Alguém ao vê-la assim tão atrapalhada e sufocada perguntou-lhe, se estava mal disposta, ou se precisava de ajuda, ao que esta lhe respondeu:
- Não queiras tu lá saber! O ti Joaquim tem agora lá na loja uma marmelada que sabe mesmo à... arrrtfe... (Massa Para os Eixos dos Carros de Bois)

Ia-me escangalhando a rir!...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Na Escola

Na escola primária depois de fazermos a correcção dos trabalhos de casa - “os deveres” - cópia, redacção, contas, chegava a hora do almoço.
Sentávamo–nos recostados no muro do pátio de recreio e abríamos o cesto.

Um dia apareceu-nos um mendigo à entrada do recreio. Ficou estacado e não tirava os olhos de cima de nós. Era um olhar que parecia dizer: "tenho fome, dai-me de comer".
Era um pobre homem meu conhecido, o ti Manel Maria, homem educado, de poucas falas, que vivia um mundo diferente.
Como não tirava os olhos de cima de nós, puxei de um bocado de broa e pondo-lhe uma posta de bacalhau assado besuntado em azeite e alho, dei-lho. Comeu com regalo.
Não tinha como agradecer a oferta, mas pegando na sua guitarra portuguesa, já escura pelo tempo, que sempre o acompanhava, começou a dedilhar as cordas com os dedos acastanhados pelo fumo abusivo dos cigarros. Deixámos de comer para ouvir aquela cantiga que nós, miúdos, conhecíamos dele e que tanto gostávamos de ouvir. Era composta de quadras que alimentavam a nossa fantasia, das quais apenas me recordo de uma pequena frase, aquela que me ficou no ouvido.
“Uma pulga a catar chatos na careca d' um piolho”.

Comíamos à pressa para aproveitar o tempo mais esperado da escola e o que passava mais rápido, a brincadeira. Raparigas para um lado, rapazes para o outro. Não havia misturas. Nós, rapazes, brincávamos ao pião, cabra-cega, bandeira e bela-mura.
Era ao pião que mais gostávamos de brincar. Fazíamos os próprios bicos afiados, "garças", para que a bicada certa marcasse bem o do adversário. Na bela-mura, o salto para cima das costas dos jogadores acompanhava-se com uma lengalenga "Uma da bela-mura, duas pernas cruas, três landês ,quatro sapato ,cinco brinco, seis reis, sete canivete, oito biscoito, dez pés".

As meninas, como eram mais sossegadas, jogavam ao lencinho...

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

"Não deixam governar vida a ninguém"

Diz que comprou e vendeu muitas coisas velhas.
Chegou a ir para os lados da Sertã, correr aquelas aldeias perdidas no meio das serras.
Saía de madrugada com um ajudante e regressava à noite com o carro carregado de tudo quanto era velho. Comprava por baixo custo, não sabendo os mais velhos, o valor dos objectos de que se desfaziam, confiavam nele como incapaz de enganar quem quer que fosse.
Comprava relógios de coluna, de capela e de bolso, alambiques, pratos dos “aranhões e cavalinho” notas e moedas, e diz que caso não os tivesse vendido, não teria lugar para expor tanta coisa.
Mostrou-me uma grande panela de ferro de três pernas feitas de patacos fundidos que não tinham grande valor, e, arranjando-lhe um fundo falso, serviu de cofre durante muitos anos.
Mas o negócio passou a correr mal, os mais novos começaram a ter a noção do valor dos objectos, e não deixavam que os seus familiares os vendessem.
Posto isto, passou a comprar “vinhos podres”.
-Aí é que eu me enchi! Disse ele. Carregava uma camioneta de vinho duas vezes por semana, algum ainda se podia beber, mas como tinha qualquer defeito, era todo para queimar.
Até que um dia os fiscais foram à fábrica e descobrindo muita aguardente sem ser manifestada, trataram imediatamente de encerrar a fábrica.
-“Já não deixam governar a vida a ninguém” – Interrompeu a Ti Maria, muito zangada –-Se tomassem mas era conta dos ladrões que andam p’raí a roubar!
Daqui em diante o Ti Joaquim passou a dedicar-se à sua loja e mercearia, porque entretanto os anos começaram a pesar…

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Avô é Avô

Manhã fatídica aquela, avô,
que te levou.
Dia cinzento de Inverno que arrefece
Muitas das gentes sem contar
Quando te faltou a lenha para o lar.

Com a junta rumámos ao Calvário
E de pé no estrado com a avó serravas
Parte do sobreiro, o estorvado galho.

Num virar de costas no chão te vi.
Um fio de sangue pela tua boca saía
Andaram as vacas! Um ataque!... não sei
Sei que também de morrer fiquei

Pediu água a avó aos gritos
Suas mãos pela face passava
Eu tão assustado estava
Que não sabia o que fazer

Num charco meu coco mergulhei
E molhada a tua cabeça pensei
Na esperança da vida voltar
Mas… quedo continuaste a estar

“Vai chamar alguém Joãozito”
Disse a minha avó num grito

Com todo o tormento sentido
Não sabendo o que era a morte
De todo perdi o norte
Naquele extenso vazio

Descalço em todas as direcções corria
Como cachorrinho abandonado
Onde vivalma não se ouvia
Naquela imensa mata que me engolia

Passava o tempo sem cessar
E a pequena aldeia por encontrar

Um ponto alto consigo alcançar
Para melhor sentir o cheiro do lar

Ao longe telhados avistei
E sem parar corri. Corria
Estafado, mas… enfim cheguei

Nha mãe o avô morreu!

Contava eu sete anitos. Partiu, com as histórias que eu tanto gostaria de ouvir
Passados dois anos, quis Deus que a avó partisse do mesmo lugar “O Calvário”

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Enguias ( 2)

Certo dia o ti Joaquim e o irmão foram convidados para uma caldeirada de enguias na adega do Zé do burro.
Reunidos, os seca-adegas, numa grande farra entre copos e galhofas, aparece-lhes a dona da casa. Que se sentassem à mesa, que já estava posta.
Trouxe uma grande panela de sopa de grão e começou a servi-los.
Olharam uns para os outros. Ficaram admirados, pois não contavam com aquilo. Houve mesmo alguém que comentou entre dentes ”Então, vim eu aqui para comer grão a esta hora?”

Começaram a comer e, o irmão, comendo só um pouco dizia baixinho para o Joaquim, dando-lhe uma cotovelada “Não sejas parvo, espera pelas enguias… não comas, se não ficas sem barriga para elas!”
O ti Joaquim, estando com fome e porque a sopa também tinha um pouco de carne e chouriço, ele que desde sempre fora mais amigo de carne do que de peixe, até dizia muitas vezes que o “peixe não puxa carroça”, comia e chegou a repetir, “Ai não que não como... não comas tu, não!”
A dona da casa insistia. “Comam mais, façam de conta que estão em vossas casas! Ou não gostam do comer?!”
“A sopa está boa” diziam uns. “Para mim já chega” diziam outros!
Por fim, a ti Ana retirou a panela.
O dono da casa, o Zé do burro, levantou-se e disse:
- Vocês desculpem, mas hoje não há enguias!

Grande silêncio se fez naquele momento!

“Esta manhã quando fui para levantar as redes, fui dar com elas todas rotas, não sei se foram as doninhas ou se foi algum malandro que fez aquele trabalho. Mas bebam mais um copo…”
Beberam mais um copo e saíram, porque a ti Ana tinha dito ao marido “Vamos para a cama que esta gente quer-se ir embora!”

O ti Joaquim foi para casa de barriga cheia, e o irmão… “Ah malandro, desta vez chegaste para mim!”

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Músicas para os meus ouvidos

Respondendo com muito agrado ao desafio da amiga Sophiamar, recordo músicas marcantes da minha adolescência.

Quando me senti crescido, comecei a sair em grupo, acompanhado por alguns já maduros, para outras aldeias das proximidades onde ia conhecendo novas caras.
Esperava ansioso o domingo, ou algum dia santo, para correr à “discoteca” que ficava à beira do campo. Uma grande eira esperava o grupo que vinha d'além, atravessando o extenso arrozal, vindo juntar-se aos d'aquém .
A matinée começava ao toque do gira-discos, e toda a gente dançava.
Deixo o registo da primeira canção,“Ai que bem cheira a linda Rosa”, ao som da qual dancei pela primeira vez, bem agarradinho a uma bela rapariguita.

"As rosas que te mandei ... mataram o meu desejo … em troca do que te dei … recebi de ti um beijo … e tão alegres depois … de nossos beijos trocar … à festa fomos os dois … de braço dado a cantar.
Ai que bem cheira … que bem cheira a linda rosa … ai que bem cheira que suave o seu perfume … ó-i ó-ai sou feliz e sou vaidosa … por uma rosa … trago o coração em lume.
Olho para a rua … o povo caminha … como nós vai folião … minha mão na tua … tua mão na minha … coração com coração …la la la la la la la …la la la la la la la…"

Depois… veio a admiração pelos Beatles, Pink Floyd, Música Popular Portuguesa, Fado, Música Clássica...

E agora o momento de passar o desafio a:
Tiago R. Cardoso
Quintarantino
Villager
Rosa Maria
Aran
LuzdeLua

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Enguias

As grandes chuvadas de inverno invadiam os campos do arroz, as valas enchiam-se de água barrenta, e os pequenos rios convidavam os mais experientes à pesca das enguias.
Peixe muito cobiçado pelo seu ensopado, ou fritas como petisco, ou numa boa caldeirada.
De tarde colocavam as narças submersas nas valas ou nos rios, de modo a que ninguém visse o local exacto, porque havia sempre alguém à espreita para roubá-las durante a noite, e de manhã iam levantá-las com o saco cheio do delicioso peixe. Outros utilizando a sertela, uma técnica mais rudimentar, sempre conseguiam pescar algumas.
Quando alguém tinha a sorte de apanhar enguias em excesso, convidava logo os amigos mais próximos e, juntos, cada qual contribuindo com o seu jeito de cozinheiro, faziam à noite uma bela caldeirada.
O local escolhido para o banquete era sempre a adega, um local espaçoso, onde podiam ter todos os tipos de conversa, longe das crianças e das mulheres.
O grande tacho de cobre era colocado ao centro da mesa, com as batatas e cebolas às rodelas, enguias cortadas aos bocados a nadar naquele delicioso caldo amarelo, onde muitos gostavam de molhar o bocado de pão para provar, antes da refeição começar, para fazerem peito a um copo de tinto, tirado ali ao lado do tonel pelo espicho.
O Ti Joaquim nunca fora moço de ir às enguias, mas nem por isso deixou de comer algumas caldeiradas.
Quando sonhava que alguém nas redondezas iria dar uma caldeirada aos amigos, combinava com o irmão.
- Olha, hoje temos caldeirada!
À hora certa, o Ti Joaquim batia ao portão da adega e, perguntava ao dono da casa pelo seu irmão. Este respondia-lhe que o não tinha visto, que ali não se encontrava. Mas já que ali estava, convidava-o a entrar para comer umas enguias. Ao que ele se fazia um tanto esquisito, mas lá aceitava. Sentado à mesa, daí a alguns minutos aparecia o irmão a perguntar por ele. O dono da casa para não criar ali uma desfeita convidava-o a entrar e fazer parte do grupo…

“Onde se senta um português, sentam-se dois ou três”.

(continua)

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Num postal para um dia especial

VIVER É SEMEAR ESPERANÇA

Semeia esperança nos teus caminhos,
Pela palavra, pelo optimismo, pela confiança.
Há tantas almas arrasadas, destruídas,
Nas trevas angustiadas das suas vidas.

Cultiva apaixonadamente a esperança!
Por onde passes, deixa rasto
Do fogo, vivo de sabor a eterno.
Há tanto ânimo moribundo, tanta dor,
Tanto desespero e tanto inferno…

Dá força ao fraco, dá alento ao tímido,
Dá coragem aos que tombam por aí além,
Vagueando, exaustos e sós,
Sem rumos, sem certezas, sem ninguém.

Dá esperança ao mundo desolado,
Como farol em noite escura,
Como bóia salvadora da tormenta,
Como âncora firme em mar de escarcéus.

Agarra carinhosamente a esperança
Como a mão escondida de Deus…

(Mário Salgueirinho)

Recebido de Pe. Fernando Gonçalves scj

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A minha sementeira da batata

Como os adultos também gostam de brincar um pouco, pensei em colocar desta vez um poste diferente.

Como estamos na época das sementeiras das batatas, e porque gosto de fazer alguma coisa também na agricultura, semeei para consumo de casa, no meu quintal, durante uma hora por dia, ao longo de alguns dias, doze quilos de batata de semente.
Foram trinta e seis regos ao todo, com seis metros de comprimento cada. A semente ficou à distância de trinta e cinco centímetros separadas umas das outras.

Deixo aqui um repto:
Que me digam quantos quilos de batatas esta sementeira virá a produzir.
O comentador que mais se aproximar receberá um prémio.
Gostaria também de saber que tipo de prémio gostariam que vos fosse oferecido.

A resposta saber-se-á daqui a uns tempos.