sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Cada tacho é um tacho



O texto do tacho

Alfaia indispensável em cada lar
para comer e chorar por mais
dar força a quem lhe falta voz para gritar

Quando cheio de paparica
toda a gente ri
toda a gente grita
por mais
e por menos que reste
o rapam pegando num naco de pão
ou com a concha
ou com a mão

Sopa da pedra
guisado de coelho
torresmos
também em ebulição
se transforma em poesia
a ferver mentiras
como o povo diz
e com razão
quando tem apenas água
quando lhe roubam o pão

Muito se diz e faz
à volta de um tacho
até dá para cantar
do fundo do coração
e muitos ousarão dizer
Que graça qu’ é u tacho
Ponto de exclamação

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dia de Reis



Na soalheira tarde de Reis contemplei
Um mar sem horizonte entre as dunas
Correndo descalço contra a maré
Competindo com o atleta que é meu pé

Infinitas leivas de espuma esvaíam
Sob o meu raso e ondulado plinto
Aprendiz andante sobre as águas
No aterro extenso areal afinco

Terminada a vida que foi
O caça polvo adormeceu
Na areia húmida da praia
Lançado ao mar à costa deu

O tempo não o pode abrasar
A nova maré cheia o faz voltar

Nesta luz de tarde quente
O Rei agradou a seus pajens
E ao fim do dia elevo
O meu avelhentado presente
No meu olhar contemplando
Lavado pelo ocaso tempo