sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sicó III


No Verão a aldeia é muito visitada aos fins-de-semana por pessoas que vêm dos mais diversos lugares. Alguns chegam bem cedo para ocuparem os melhores lugares junto à água do ribeiro. Trazem os almoços em grande canastas, porque não é permitido fazer fogueira para os grelhados, e oxalá não venha a ser, porque a floresta não está preparada para esse fim.
Durante as férias alguns jovens visitam os seus colegas da aldeia, trazem alguns mantimentos, porque o vendedor ambulante vem apenas duas vezes por semana.
Arranjo alojamento para as raparigas, muito jeitosas, numa velha dependência, enquanto os rapazes montam as suas tendas no exterior debaixo de grandes carvalhos. De manhã acordam ao som da buzina do padeiro, compram o pão e preparam o pequeno-almoço para as colegas.
Depois, de mochila às costas e munidos de uma bússola, partem à aventura para descobrirem quão de bonito a serra lhes oferece.
Como estes jovens estudantes são colegas do meu filho Tiago, preparei-lhes uma surpresa para quando regressarem.
Uma mesa ao ar livre com um bom almoço composto por borrego no forno com batatas louras, salada de alface e tomate e broa quente.
O borrego havia sido encomendado no talho da vila, porque eu sou incapaz de matar, ou mandar matar, qualquer animal de quatro patas que tenha no curral.
Pelas duas da tarde chegam muito contentes com as descobertas que conseguiram e falam de um local de rara beleza, um local onde muito provavelmente há milhares de anos teria havido um glaciar. Também, de uma gruta cuja entrada se encontrava escondida pela vegetação e que com a ajuda de uma marreta conseguiram alargar a entrada, entrando no seu interior ficaram cheios de admiração com aquilo que viam. Colunas virgens de pedra, brilhantes e húmidas, estavam suspensas no tecto, outras partiam do chão naquela extensa galeria. Ao lado, um rio subterrâneo com água gélida que deve ser a continuação do mesmo que é visível no exterior, mas que num determinado local se some entre as rochas, voltando a brotar noutro local.
Muito bonito! - diziam eles.
Durante toda a tarde não comentavam outra coisa senão sobre a beleza da serra, que até se propuseram escolher nomes para dar àqueles locais. Pensam, assim, vir a fazer, um dia, uma exploraração mais pormenorizada.

Fico por aqui, continuarei em tempo oportuno.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sicó II



(continuação)

A aldeia ainda não tem luz eléctrica.

Lembro-me que o nosso presidente da câmara chegou, pela altura das eleições, e disse-nos que um dia também nós poderíamos ver televisão quando a aldeia estivesse electrificada.
Os poucos residentes disseram logo que não era preciso gastar tanto dinheiro a puxar os fios de cascos de rolha, porque os novos não se querem fixar cá, e os mais velhos não duram toda a vida. Acrescentou alguém que sempre ouviu dizer: “o que mais mal faz às pessoas, e que traz mais doenças, são estas electricidades que andam pelos ares”.
Por isso, se nos governámos até aqui sem ela, também não a queremos agora.

Chegado o Domingo, dou uma ração de aveia e favas, e uns braçados de pasto aos animais, aparelho a égua para irmos à missa das dez, que fica a uma hora de caminho. As ovelhas ficam irrequietas e fazem um berreiro quando dão pela nossa presença e pelo relinchar da égua.

Fiquem sossegadinhas, que hoje não é dia de pastoreio!"
Encontramo-nos com alguns familiares que nos convidam para almoçar e, enquanto as mulheres preparam a refeição, vamos dar uma volta ao quintal para ver o trabalho agrícola da época. O olival e a vinha estão bonitos. À mesa fala-se um pouco de tudo: as notícias da semana, da família e da vida do mundo... vimos um pouco de televisão.
Como a vida do campo é diferente!
Há também tempo para uma partida de sueca com as mulheres e, a meio da tarde, depois de bebermos uma jeropiga para a sossega, regressamos a casa, até ao próximo domingo onde certamente seremos convidados por um qualquer outro familiar.

Continua…

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sicó I

Desço a serra devagar para não cair em alguma ravina. Lá em baixo a bonita aldeia no seu fulgor, preparada para mais uma noite plena de sossego.
As chaminés dos poucos casaréus lançam fumo branco, como um lençol protector que cobre toda a parte ocidental da várzea.
Sigo à frente das oito ovelhas, que vão dando o sustento para a casa, o sol não tarda a esconder-se e faz frio. Como são poucas as cabeças, arranjei um nome para cada uma delas: A Manhosa, a Matreira a Graxa, a Fagundes, a Malhada, a Cota, a Améélia e o chefe Barbabéé.
A Améélia, a mais desdenhada teima em ficar para trás a comer mais umas pontas de urzes, ordeno ao Patego que a vá virar. Trepa num rápido aquele caminho de pedras gastas pelo tempo e segundos depois juntam-se ao pequeno rebanho.
Sinto à distância o cheiro da panela a ferver, que ao lume coze uma entremeada da salgadeira e uma chouriça das maiores, porque o rancho neste momento é maior.
Após ter encurralado o gado e dado o grão à criação, tomado um banho rápido de água morna e sentámo-nos à mesa, junto ao borralho, e à luz da candeiae do candeeiro a petróleo (porque Almártega não tem luz eléctrica), comemos a hortaliça, as batatas com o bom conduto.
Depois de mais um dia de trabalho, é hora de ir para a cama descansar no silêncio da noite, onde apenas à hora certa se ouve o assobio da coruja no velho moinho…

...Continua

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Poder da atracção



Que objecto é
este?!
Para que
serve?

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Um poema da ti Maria

Que fizeste tu, para o dia ganhar?
Enganei aquele cigano
Na venda do cavalar

Já eu não posso assim dizer
No negócio tenho azar
Um sábio me houvera dito
Não és gente de comprar e vender

Feijões e tomates reguei
Tirei estrume do curral
Com a vizinha do lado
Conversa, pude trocar

Descasquei favas, remendei meias
Preparei rápido o jantar
Tratei do porco e das galinhas
Boa sesta pude repousar

Deixem-me ser como sou
Não sou eu que vou mudar
Faça eu o meu melhor
Para não vir a arrepender

Tenho pena dos que trabalham
Sei que metade vão dar
Para mim e para alguns
Que não querem trabalhar.

É bom viver na aldeia
Não dá tempo para atrofiar
Não falte em cada mês a peia
Para eu me governar

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Passagem de Ano...Almártega



A Passagem de Ano decorreu numa antiga casa restaurada, situada numa quintarola.
A convite da jovem aniversariante, fui com a cara-metade e a mais nova, porque o do meio foi até à Nazaré com os seus amigos dar as boas vindas ao Ano Novo.
Todos os convidados, organizados, levaram um pouco de tudo: fêveras, costeletas, chouriços, salsichas frescas, alheiras, camarão, várias bebidas e doces à farta. O caldo verde foi feito na hora e todos participámos na confecção dos grelhados. Ficámos bronzeados a seco pelo calor do braseiro, com o aspecto daqueles que apresentam o curral de móimas.
Divertimo-nos, comemos, bebemos sem exageros, e às doze badaladas, estávamos preparados com as passas e os pedidos para 2009.
Atrás da casa, uma piscina natural onde todos estávamos dispostos a um mergulho mas, apesar da água não estar assim tão fria, apenas um teve a coragem de o fazer.

Passo a descrever a casa restaurada, porque vejo nela um estilo pouco vulgar: O exterior é original com telhado de duas águas; O seu interior é amplo; Um borralho ; A bancada de cozinha com a mesa, fogão e lava loiça, estão colocados ao centro, formando um único bloco; Ao fundo uma nova casa de banho; O quarto de dormir é aberto, ocupa todo o sótão, acessível através de uma bem estruturada escada de madeira; O tecto é rebocado e tem a forma do telhado .
Uma forma prática de restaurar o que é velho, tornando-o novo.