terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sicó II



(continuação)

A aldeia ainda não tem luz eléctrica.

Lembro-me que o nosso presidente da câmara chegou, pela altura das eleições, e disse-nos que um dia também nós poderíamos ver televisão quando a aldeia estivesse electrificada.
Os poucos residentes disseram logo que não era preciso gastar tanto dinheiro a puxar os fios de cascos de rolha, porque os novos não se querem fixar cá, e os mais velhos não duram toda a vida. Acrescentou alguém que sempre ouviu dizer: “o que mais mal faz às pessoas, e que traz mais doenças, são estas electricidades que andam pelos ares”.
Por isso, se nos governámos até aqui sem ela, também não a queremos agora.

Chegado o Domingo, dou uma ração de aveia e favas, e uns braçados de pasto aos animais, aparelho a égua para irmos à missa das dez, que fica a uma hora de caminho. As ovelhas ficam irrequietas e fazem um berreiro quando dão pela nossa presença e pelo relinchar da égua.

Fiquem sossegadinhas, que hoje não é dia de pastoreio!"
Encontramo-nos com alguns familiares que nos convidam para almoçar e, enquanto as mulheres preparam a refeição, vamos dar uma volta ao quintal para ver o trabalho agrícola da época. O olival e a vinha estão bonitos. À mesa fala-se um pouco de tudo: as notícias da semana, da família e da vida do mundo... vimos um pouco de televisão.
Como a vida do campo é diferente!
Há também tempo para uma partida de sueca com as mulheres e, a meio da tarde, depois de bebermos uma jeropiga para a sossega, regressamos a casa, até ao próximo domingo onde certamente seremos convidados por um qualquer outro familiar.

Continua…

4 comentários:

Mare Liberum disse...

Amigo, fazes-me voltar aos tempos em que a minha vida jorrava felicidade. Andava no carro de mula do avô, íamos à missa, a quatro quilómetros da aldeia e almoçávamos em casa de uma tia, a filha mais nova do avô. Não havia electricidade, custava caro puxar os cabos, nem água canalizada. Mas era tão feliz!

Mil beijinhos

p.s. Gostei da fotografia do Joãozinho.

Carla disse...

li os dois textos e deixei-me envolver na magia dessa vida campestre...tão cheia de...vida
beijos

Daniel Costa disse...

Jo Ra Tone

Coma era a vida e o que é! Engraçado... como foi agradavel, ter sido cantratado eventual, da equipa que levou a electridade à minha aldeia. Ainda não tinha chegado a televisão a Portugal.
Daniel

Carla disse...

para reler e desejar um bom fds