sábado, 10 de maio de 2008

Um estranho bicho

Quando a minha mãe ia à vila comprar alguma coisa para vender na loja, pedia-lhe que me levasse com ela porque eu não era tão guloso como a mana. Não era preciso pedir, a minha mãe bem sabia o que eu queria (um pão de deus ou uma boneca para comer).

E a alegria com que eu ficava quando o meu pai chegava do “longo curso”! Trazia sempre alguma coisa para oferecer aos dois filhos. Um dia fez-nos uma surpresa. Trouxe um bicho muito estranho que era mais ou menos da minha altura. Tinha uma cabeça, dois olhos, uma boca, uma data de pernas com buracos. Perguntei-lhe, disse-nos que era um polvo.
Prestei toda a atenção ao que o meu pai fazia. Amanhou-o e, depois de limpo, dependurou-o ao sol longe do alcance dos gatos ou dos cães, dizendo que depois de seco era muito bom para comer. À noite retirava-o, e de dia voltava a pô-lo no mesmo sítio.
O tempo passava e eu com o desejo de provar aquele petisco, que imaginava ser tão bom como a bexiga do porco no fumeiro. Estava sempre à espera que o meu pai desse o primeiro corte com a faca no polvo, para assim eu poder comê-lo.
Estava quase seco quando um cão vadio, passando por ali captou o cheiro do polvo e sem que ninguém desse conta, conseguiu roubá-lo e arrastando-o pela rua deserta, à vista dos transeuntes, que também acharam estranho tal coisa, levando-o para o seu esconderijo para depois o comer.
Grande refeição teve aquele cão vadio!

Ainda hoje estou para conhecer o sabor do polvo seco ao sol. Nunca vi tal coisa à venda no mercado que pudesse comprar.
Alguém tem um bocadinho que me mande por correio? Eu gostava de lhe dar umas dentadas!

Mas hoje o polvo é de outra qualidade…

11 comentários:

Tiago R Cardoso disse...

o que tenho aqui mais perto é a Fogaça da feira, não tem nada a ver mas aprecio, se quiseres mando-te uma.

Auréola Branca disse...

Puxa, também gostaria de provar tal receita.
Aqui há polvos, mas creio que não sejam tão frescos quanto o de seu pai.

Huuummm... Fiquei com água na boca...

Olha, deixei um presentinho pra ti no meu blog. Quero que receba-o sabendo que admiro-te muito.

Abraços.

Isamar disse...

E guardado estava o bocado para quem o havia de comer. A secagem do polvo ao sol era feita, como sabes, quando não havia outro processo de conservação mas ainda há quem a faça. Era e é muito usada em comunidades piscatórias mais pobres ou onde a luz eléctrica ainda não chegou.Este processo de secagem ainda se faz com a moreia que, depois de arranjada e limpa, é esticada através da colocação de canas e exposta ao sol.
Mais um post divinal onde não sei se narrador e autor coincidem mas parece-me que sim.
Muito interessante, amigo.

Bjinhossssss

Anónimo disse...

Jo, eu vi uma vez em Monte Gordo uma secagem de polvo para depois ser comido; eh pá, juro-te que depois do que vi seria incapaz de comer aquela coisa, enquanto secava e não secava a quantidade de moscas e mosquitos à volta daquilo fazia impressão. Na Nazaré também costumam secar peixe mas não é polvo. Sugeria que comprasses um polvo e fosses tu próprio a secar o bicho, assim já sabias o que comias. Dizem que é bom, não sei.
Um Abraço:))

Lady disse...

:))

Talvez nalguma terra de pescadores! Ou perto do mar!

Quem sabe!!!

Jinhos

PS: Ainda existem quem os apanhe, vá à pesca do polvo! Não me refiro, às grandes pescarias, mas por quem o faça por gosto!

Mara disse...

Jo
Quando eu era criança nalgumas feiras de aldeia vendiam polvo seco, grelhado, uma vez provei e não gostei (e eu até gosto de polvo), e o cheiro que o dito grelhado deitava era de fugir.
Penso não ter voltado a comer tal petisco.
Bjs

Carla disse...

pois por aqui só umas francesinhas ou umas tripas à moda do Porto, servem?
beijos

Luna disse...

Aqui na Nazaré no areal ainda se faz a secagem do carapau, sarda , polvo peixe agulha e batuques, por isso se a vontade for grande sabes onde ir procurar
Bj

Julio Rodrigues disse...

Que saudades do arroz de Polvo...onde eu vivo apenas se encontra peixe-gato...

luar perdido disse...

Pois...Lá o dito polvo seco não tenho para te enviar, e também nunca provei. Polvo de várias maneiras cozinhado, isso sim e gosto. De petiscos aqui...Se és guloso ainda te posso "safar", se não, há sempre os peixes aqui das "praias", serve?

Beijinho grande, está um espanto como de costume

jo ra tone disse...

Tiago,
Se a Fogaça é daquelas que levam açúcar, podes enviar.
Porque diz o ditado "conduto sem fogaça, é mau governo!"

Auréola Branca,
Era fresco, era,
e o meu pai podia tê-lo feito de ensalsado.
É cá um petisco!

Sophiamar,
Coincidência total
hehe "guardado estava o bocado..."
Mas digo que que o polvo seco ao sol, deve ficar mais duro , do que cozinhado!
E o canídeo tem melhor dente que nós.

Lynce,
Se o polvo leva tempo a cozer, não sei como o sol lhe consegue tirar a rigidez

Aran,
Se eu vivesse junto ao mar, digo-te que um dos meus passatempos, seria a pesca.
Fui "pescador" quando o achigâ invadiu por aqui os campos do arroz, há década + ou -
Depois desapareceu.

Mara,
Obrigado por me alertares.
Prefiro então continuar a comê-lo como sempre; cozido ou estufado.

Carla,
Claro que serviam!
Por acaso francezinhas ainda não provei.Agora tripas à moda do Porto, penso que será "dobrada com feijão branco" Uma delícia.
Mas já não se vê muito este prato nos restaurantes.

Multiolhares
Fico a saber onde procurar.
Quando passar pela Nazaré, vou experimentar

Villager,
Polvo é bom
Então por aí só enlatado de caldeirada.
O peixe-gato tb existe por aqui
Penso que é uma miniatura de tubarão?!

Luar Perdido,
Gosto mais de peixe do que carne.
"A gulosa é a minha mana"eheh.
Na época de praia consegue-se comprar peixe com preço mais baixo.
Olha quando em pequeno me disseram que os polvos eram apanhados nas rochas ... e pensei que eram nas serras. Devem ser bons esses pescados daí!

Obrigado a todos