
Ao terceiro dia assentiu finalmente em ir ao médico porque a dor teimava em continuar.
Com a falta do médico de família e o Centro de Saúde a funcionar a meio tempo, a única solução foi recorrer ao Hospital Distrital.
Quando chegou ficou pasmada com tanta gente.
Enquanto esperava na sala, entrou uma senhora que, para admiração de todos, dizia: “Ai que eu morro! Estou muito mal! Acudam-me!? ninguém me acode?”
Era a sua doença psíquica, segundo disse alguém que a conhecia, que fazia com que não estivesse calada.
– “Oh senhor acuda-me”, dirigiu-se ela a um paciente – “eu tenho o sangue infectado!”
– Mas…eu não sou médico, como posso eu acudir-lhe?
Outros respondiam com graçolas de vária ordem: “Espere pela sua vez que ainda agora chegou! Vá mas é trabalhar que ainda é nova, que lhe fazia bem!”
Porém alguém disse, que esta mulher com quatro filhos, quando era nova foi maltratada pelo marido. E terá o seu quê de verdade, porque entretanto ele chega e ordena-lhe com maus modos que se sentasse e ficasse calada enquanto ele ia almoçar. Não demorou mais umas chalaças
– “Vá comer, vá, porque senão quem morre é você.”
Eu achava aquilo ridículo. A ti Maria, sentadinha no seu lugar, porque estava um pouco distante e com a sua falta de ouvido não se apercebeu do que estava a acontecer.
Passados alguns minutos, chamam por Maria Augusta para a triagem.
A mulher, que andava de um lado para o outro entrou imediatamente.
Pensei: “Há qualquer coisa de errado! Serão duas pessoas com o mesmo nome?!”
Entrei com a ti Maria, que devido à sua idade não podia entrar sozinha, e perguntei por quem tinham chamado. Fora naturalmente pela ti Maria, visto ter chegado primeiro.
A sra. enfermeira ordenou então à outra que se levantasse e que aguardasse mais um pouco. Aqui a coisa começa a ficar complicada, pois ela não queria levantar-se, alegando que estava muito mal, a morrer. A ti Maria como agora estava lado a lado com a outra (im)paciente, ouviu-a e disse-lhe:
– “Se está mal vá ao médico!”
– “Ai mas eu estou cheia de comichão!”
– “Se tem comichão vá tomar banho ao mar que isso passa!”
– “Até na sola dos pés!”
– “E …naquele sítio que eu cá sei também lhe morde?”
Fiquei estupefacto com aqueles comentários diante da senhora enfermeira.
Então, a outra lá acabou por ceder a cadeira. Após a triagem, foi dada à ti Maria uma pulseira verde, voltando esta novamente para a sala de espera até ser chamada para a consulta.
Uma simpática médica brasileira chamou-a mais cedo, pela sua idade avançada e porque viu que não era “cliente habitual” do hospital.
Esteve impaciente durante oito horas, tempo que durou a fazer vários exames médicos e tratamentos, até que lhe deram alta.
A senhora da comichão entretanto saíra mais cedo, medicada, voltando assim a sala de espera à normalidade.
10 comentários:
...assim seguem os dias entre a normalidade de uns e a anormalidade de outros!
Mais um texto muito bem escrito
beijos
Um texto que revela o dia a dia da urg�ncia de um hospital. Ouve-se de tudo, v�-se de tudo.A doen�a, a impaci�ncia, a dor, a solid�o...
Beijinhos
p.s. O sophiamar faz hoje um ano. N�o oferece bolos mas deixa-te palavras amigas.
A vida por vezes prega-nos partidas, quando menos esperamos, lá estamos nós, num hospital ou centro de saúde.
MUITO BOM.
Mais uma excelente imagem do nosso quotidiano.
Bjs
Eu sei, até por experiência profissional, que uma sala de espera do centro de saúde ou do hospital contém muitas surpresas. Pena não serem boas...
Beijos.
Será que a solidão não leva também muita gente aos centros de saúde, apenas porque precisam de companhia?
Um bom relato este.
Bjo.
Pois...
Boa semana.
olha, passa lá no meu blogue que tenho um pequeno prémio para ti.
É a vida a desenrolar-se na dor diária dos corações sentidos
beijo
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