quinta-feira, 17 de abril de 2008

A caldeirada das batatas

Depois de tantos anos à luz do pitromax e do candeeiro a petróleo e outros, chegou a tão esperada luz eléctrica.
O ti Joaquim pensou logo em comprar uma televisão, para que os seus clientes pudessem ver alguns programas e alguns filmes e, daí, vir a vender mais os seus produtos.
A rapaziada passou a frequentar mais vezes a casa e, por vezes até se esqueciam das horas, ficando até tarde na jogatana. E às vezes não satisfeitos, os mais novos, quando o ti Joaquim dizia que eram horas de fechar, levavam uma grade de cerveja para a rua e iam jogar a bola para a estrada, até altas horas do noite. O vizinho mais próximo é que não estava pelos ajustes, pois sempre que de noite queria dormir, era inquietado pelo barulho que estes faziam, e pensou apresentar queixa.
Numa noite a guarda republicana bateu-lhe à porta, que estava fechada, pois já passava da hora de encerramento do estabelecimento. Num ápice tiraram todas as bebidas que estavam na mesa, cerveja, copos, e só depois é que foi aberta a porta.
Como tinha sido um acuso, o ti Joaquim teria que ira tribunal. Mas teve algum tempo para pensá-la.
Em tribunal todos iriam dizer a mesma coisa. Que andaram todos a arrancar batatas nesse dia para o ti Joaquim e que este à noite lhes ofereceu uma caldeirada de batatas como compensação, estando todos ali a cear até tarde por conta da casa.
Presentes a tribunal, todos responderam da mesma forma, e o doutor juiz dirigindo-se ao mais velho de entre eles, coxo e um pouco surdo, perguntou: “Então as batatas eram boas?”. “Sim, Sr. Doutor Juiz! Mas o bacalhau era muito melhor! Era cá cada posta!”.
“Pergunto se as batatas que arrancaram eram boas!”. “Sim eram boas, era cá cada uma que até pareciam duas”. E assim se safaram da transgressão. Foram mandados embora, sendo o ti Joaquim absolvido.

14 comentários:

Tiago R Cardoso disse...

excelente, mais uma grande historia do Ti Joaquim, mais uma daqueles momentos que dá gosto em ouvir contar, muito bem.

Isamar disse...

Este ti Joaquim tem histórias que nunca mais acabam. Olha que lá na serra de onde sou natural, têm direito a jantar aqueles que ajudam nos trabalhos da terra.

Beijinhossssss

Filoxera disse...

É uma boa história, ao invés da minha inspiração hoje.
Um beijinho.

Anónimo disse...

Olá Jo:)))
E ainda faltou mencionar uma, conhece aquela que está imediatamente abaixo à ponde açude?? essa mesmo..., a ferroviária da linha do Norte:))) Temos assim, 8pontes.

Carla disse...

adoro as tuas histórias com sabores de outros tempos, mas com a alegria de sempre
bom fim de semana
beijos

São disse...

Ainda bem que escaparam...
Feliz fim de semana.

jo ra tone disse...

Tiago.
O ti Joaquim tem muitas!
Também daquelas que têm um pouco de pimenta, (só um pouco,
Irei colocar algumas, dentro de toda a educação e respeito. Mais do que aquele que os nossos governantes têm por nós.
Abraço
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Sophia,

É verdade tem um mar de histórias.
"Têm direito ao jantar", e muito bem! Todo o trabalhador tem direito ao seu salário.
Beijinho
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Filoxera,
Permanecerá sempre presente no teu humilde e amoroso coração.
Reconfortante abraçinho
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Lynce,
Claro, junto ao açude, onde se poderão ver as sofredoras lampreias, na época da desova,lutarem contra os obstáculos, para alcançarem "Penacova"
Já fizeram algum corredor de passagem para elas?
Abraço
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Carla,
O ti Joaquim tem das boas!
Ele continua a ser o chefe da aldeia com os seu noventa e quase cinco
Simples, mas completas.
beijinho
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São,

A sorte d'um homem é escapar!
Beijinho

luar perdido disse...

Ah valente Ti Joaquim!
É um sabor intemporal que sempre aqui encontro nas tuas palavras simples mas tão aconchegantes. Fazes lembrar os serões de inverno em que as anciãs histórias corriam soltas e belas na sua singela pureza.
Adoro vir visitar-te!

Um beijo imenso e um optimo fim de semana

Anónimo disse...

Exactamente Jo, infelizmente aquando da construção do açude ninguém se lembrou que milhares de lampreias subiam o rio para desovar. Como se isso não bastasse, ainda temos o predador do homem que selvaticamente se coloca em posição estratégica para capturar as lampreias que depois de esgotadas tentam saltar o betão.

Em 1975 andava na Escola Silva Gaio, em Santa Clara, não sei se conheces.
Um Abraço:))

jo ra tone disse...

Lynce
Coitados dos Ciclóstomos, o que eles não sofrem até chegar ao prato do consumidor!
Fica junto ao portugal dos pequenitos
Boa continuação

jo ra tone disse...

Verdade Luar Perdido, cada qual contava a sua, para ver qual a melhor

Beijinho
Bom fim de seman

Daniel disse...

jo ra tone

Encantou-me a história bem contada! Não é ficção nem de longe.
Eu próprio vivi ao vivo e a cores, cenas semelhantes. Não as saberia descrever melhor, é certo. São recordações, de outros tempos, do século passado!...
Grato por ter oportunidade vir aqui recordar!

Daniel

Luna disse...

a união faz a força
beijinhos

Isamar disse...

Voltei para reler a hist�ria que nos contas, do bem conhecido tio Joaquim, e tamb�m para deixar beijinhos de fim de semana.