sábado, 3 de maio de 2008

Na Caserna

Farto de estudar, chegou a altura de cumprir o serviço militar.

Passados que foram alguns anos, após o 25 de Abril, fui chamado para a tropa.

Para que raio querem um jovem como eu na tropa?
- Não tenho nenhum jeito para a guerra, não sou a favor dela!
Contudo tive a sorte de ir para o quartel mais próximo.
Ao receber a farda, fiquei cá com um par de botas... que, por serem pequenas e porque não deu para trocá-las com ninguém, tive que as usar e estragá-las quanto mais rápido melhor, para me darem outras. Em marcha fazia por oscilar um pouco, pensando que me mandavam para casa, mas não pegou, pois lembro-me que no pelotão havia um coxo que ganhava sempre as corridas. O raio das botas deformara-me um dos dedos do pé direito.

O meu pai comprou-me uma Tryal de Cross na qual regressava só aos fins-de-semana a casa. Passado algum tempo, e porque já tinha carta de condução, podia levar o Morris Marina, preto, a gasóleo. Sempre que chegava à porta d’armas, tinha que sair do carro para o sentinela ver que era eu mesmo, pois este insistia em fazer umas manobras de continência com a arma, que eu não merecia. Pensava ele que eu era uma alta patente militar!
Feita a recruta, chegou o dia do juramento de bandeira.
Envaideci quando na formatura em parada, ouvi chamar pelo meu nome para receber das mãos do senhor comandante o prémio de melhor atirador da companhia de comando.
Não sei como consegui tal mérito de melhor soldado de tiro ao alvo, nem porque é que a partir daqui não virei caçador ou atirador desportivo. A visão é simples:
Sou contra as armas, contra a guerra e contra todo o tipo de violência.

Mesmo não gostando de whisky, para o dia do meu aniversário, pedi a um amigo que me trouxesse de minha casa uma garrafa, para eu oferecer um gole aos camaradas. Este entregou-a ao cabo-dia e quando a recebi apenas restava um pouco no fundo, porque a garrafa de Dymple fora parar às mãos de um soldado que tinha o mesmo apelido.

Tropa! Não tenho saudades desse tempo, se bem que fiquei mais bem preparado fisicamente, mas não me correu lá muito bem: As refeições indigestas, aquele mal-estar, as noites mal dormidas, o alvoroço na caserna, as noites passadas no casino, onde investíamos o pré recebido.
Não foi das melhores alturas da minha vida!

14 comentários:

Tiago R Cardoso disse...

Morris Marina ?

Sim senhor, o meu pai teve dois, carro de guerra.

Gostei da historia, eu pelo menos não me queixo, andei na Marinha, digamos que a recruta e tempo restante foram um passeio.

Questões de sorte, acho eu.

Anónimo disse...

Eu não me posso queixar, estive de Fevereiro de 1982a Maio de 1984 na Marinha de Guerra, para além de ter uma tropa calma com bom ordenado ainda conheci alguns países no mundo, estive sempre embarcado, ou no Escola Sagres ou em fragatas.

Luna disse...

Guerras que não são nossas e somos forçados a travar, diziam que a tropa fazia os rapazes homens de verdade, sempre tive as minhas duvidas
Bj

Isamar disse...

Não fiz tropa mas gostei da que contaste. Sabes tirar partido das situações e qualquer assunto que trates sai bem-humorado.
Com que então de Morris Marina? O meu pai também teve um desses. Era cá um carrão!

Olha leva beijinhos desta mãe a quem a tropa fez muito bem em ter acabado.

Daniel disse...

Olá Jo Ra Tone

Ainda bem que a obrigatóriadade da tropa acabou!
Levando á letra o que li, minha antes, terá sido pior.
Fazia duma arma, um brinquedo e nunca me preocupei em ser bom atirador. Era preciso despejar e pronto.
Como me considero pacifista, hoje nem devo saber mexer em armas.
Ginástica, creio que continuo a tirar partido.

Daniel

Filoxera disse...

Ainda bem que acabaram com o serviço militar obrigatório.
Beijos.

Carla disse...

gostei do teu episódio, não gosto da tropa em geral
boa semana
beijos

Cátia disse...

Costuma-se dizer que é na tropa que se fazem os homens... Sei que eram outros os tempos, e eram tempos dificeis, mas agora acho que sim, que a tropa faz falta a muita gente... ganha-se disciplina e valores.

Foram os momentos que passaram e ficaram lá atras, mas com alguns episodios mais engraçados, como esse da garrafita... ahaha.

Beijo

luar perdido disse...

Naturalmente Guerra não obrigado!!!!
Agora o ir à tropa, talvez por ter tido bons exemplos na familia e amigos, acho que faz bem a qualquer rapaz. Chama-me retrogarda, se calhar até sou,mas do que vi, a disciplina, o ter que fazer, e a regra só fizeram bem. Mas lá que todos eles detestaram....Isso é verdade.

Beijinho grande e boa semana

Isamar disse...

Amigo:
Passei para te deixar um abraço apertado e desejar um bom dia.

Beijinhos mil

São disse...

A única coisa razoável do serviço militar era ser um ritual de iniciação para a vida adulta.
Saudações.

Anónimo disse...

Tropa...um ano perdido da minha vida, em 1997 o ano em que entrei para a faculdade! Dizia o meu avô, "rapaz a tropa faz os homens!", pois sim... a unica coisa que aprendi a ser é engomador de lençois, sim porque aquilo não podia ter um unico salpico no ar, na tropa aprende-se muito..a fazer camas!!! Um abraço

Isamar disse...

Amigo

Passei para te desejar um bom fim de semana e deixar-te um beijinho.

Para quando um post novo?

Estou uma exigente!

Desculpa!

Auréola Branca disse...

O que é mais triste? A guerra ou a imposição de estar nela?
Abraços...